terça-feira, 26 de maio de 2009

10

A um nº10, mais do que a qualquer outro jogador, pede-se inteligência.Exige-se clareza de ideias, rapidez de pensamento, capacidade de previsão.
Se dentro do campo Rui Costa revelou essas qualidades, fora dele revelou uma preocupante falta de visão estratégica.
Deixou-se encurralar junto aos centrais, cedeu as linhas de passe e perdeu a possibilidade de organizar o jogo. Nessa posição, o máximo a que pode ambicionar é aliviar a bola, não comprometendo ainda mais o jogo.
E esperar por um qualquer golpe de génio que inverta a tendência dos acontecimentos.
Porque, seja qual for o desfecho do caso Quique Flores, Rui Costa já perdeu.
Se Quique sair, o seu plano, apresentado há um ano aborta sem honra nem glória.
E arrasta o Benfica para mais do mesmo.
Para a via crucis habitual: novo treinador, renovação de balneário, mais um ano perdido.
Se assim for, não me admiraria se etivessemos, em Maio de 2010 a discutir quem será o sucessor de Jorge Jesus.
Mas, se Quique ficar, como apesar de tudo desejo, a sua legitimidade surgirá irremediavelmente diminuida.
Porque, ao responder com um ensurdecedor silêncio aos sucessivos títulos da voraz imprensa desportiva, Rui Costa deixou pairar sobre a cabeça de todos o fantasma de que, se o Espanhol ficar será apenas porque o Benfica não quer ou não pode pagar a cláusula de rescisão de 3.500.000€.
Caiu num redil para o qual eu não vejo saída.
Espero que ele veja.
Porque se com a camisola vermelha, viola ou rosso-nera Rui Costa sempre me encantou, espero agora que, de fato e gravata me surpreenda com um toque de génio.
Ou um golo de levantar a Luz.

Pedro Rui

domingo, 10 de maio de 2009

A idade da inocência

Berlin, 1997.
No Estádio Olímpico a Selecção Portuguesa vencia a poderosa MannSchaft por 1-0, o que garantia o desejado apuramento para o Campeonato do Mundo do ano seguinte.
Tudo parecia correr bem, quando Rui Costa recebe a indicação de substituição.
Aí, entra em jogo o árbitro francês Marc Batta, que imbuido de um excesso de rigor impensável penaliza o vagar na saída do nº10 com o segundo cartão amarelo e consequente expulsão.
O desnorte apodera-se do jogo Português, que permite o empate alemão e o consequente afastamento do Mundial.
O uso de força desproporcionada por parte de Batta privou Portugal dessa vaga, que merecia.
12 anos depois, o mesmo Rui Costa dirige ao árbitro que apitava o Benfica-Marítimo algumas palavras pueris, de indignação pela sua actuação e é castigado com 1 mês de suspensão.
É mais uma vez evidente a desproporção do castigo aplicado face ao acto em questão.
As suas palavras reproduzidas no relatório do jogo, surpreendem pela sua polidez e por não incluirem as habituais referências à orientação sexual do árbitro ou à actividade profissional da sua mãe.
É evidente que também aqui a Liga de Clubes se sentiu imbuida do mesmo excesso de rigor que afectou o Sr Batta.
E, se as consequências de Berlim são sobejamente conhecidas, nunca saberemos se esta atitude não custou ao Benfica o 2º lugar da Liga.
Rui Costa já não joga, é verdade. Mas ninguém nega a importância que tem no seio da equipa de futebol.
Mas, mais do que isso, este episódio revela a animosidade reinante em relação ao Benfica.
Animosidade por parte dos árbitros.
Árbitros que, na dúvida, não hesitam em prejudicar o Benfica.
Que erram ostensivamente com a certeza de impunidade.
Só assim se explica a quantidade de erros grosseiros com influência no resultado que ocorreram este ano.
Lembro os golos mal anulados contra o Nacional e Académica na Luz, a queda de Lisandro no Dragão, o golo com dois foras-de-jogo do Trofense, só para citar os mais evidentes.
Erros que beneficiaram a Benfica também os houve. O da final da Taça da Liga contra o Sporting ficará na história.
A diferença é que Lucílio Batista foi crucificado na praça pública. Enxovalhado um pouco por toda a parte.
A comunicação social deu largas à sua voracidade e a inexistente mão de Pedro Silva foi motivo de notícia durante uma longa e penosa semana.
Ao contrário, os erros grosseiros que enumerei são, quando muito, citados e esquecidos rapidamente.
Mas, por parte dos jornais, animosidade não termina aqui.
É com despudor que a imprensa, e não me refiro apenas aos jornais desportivos, se armou de uma hostilidade contra Quique Flores, empurrando-o pela porta fora, até à exaustão.
Que a nossa imprensa é no geral acéfala e alinhada com os tons cinzentos do politicamente correcto não é novidade.
Mas, no que a futebol diz respeito, sempre encontrei na imprensa não-desportiva isenção e frontalidade em doses razoáveis. Excepção feita ao JN, que confunde as suas origens geográficas com sectarismo.
Espanta-me por isso ver hole a unanimidade reinante julgando feroz e injustamente a época de Quique.
Incendiando os ânimos Benfiquistas, patrocinando os lenços brancos que são notícia sempre que se vislumbram nas bancadas da Luz.
Esquecendo o essencial.
E o essencial é que o Benfica está hoje melhor do que na época pasada.
Joga melhor, tem mais pontos, tem um plantel mais equilibrado e competitivo.
E que estamos apenas a meio do contrato com Quique Flores.
Terminar a ligação neste ponto é frustrar um projecto.
Julgar Quique agora é prematuro e soa a linchamento.
É sobre esta hostilidade reinante que Rui Costa deve reflectir.
Que urge entender e contrariar.
Só assim poderemos esperar tranquilidade para apróxima época.
Porque mais do que trocar de jogadores e treinadores, deveríamos trocar de árbitros e jornalistas.
Se tal não for possível, temos que mudar de atitude.
E sair da idade da inocência.

Pedro Rui