domingo, 29 de novembro de 2009

o vento do Larouco

Lá fora, ouve-se o silvo da carvalhinha.
O vento do Larouco deixa adivinhar uma noite de frio e de neve, talvez.
Esperava pois, que o jogo de Alvalade servisse para aquecer a noite.
Cedo percebi, no entanto, que dali nada de glorioso resultaria.
O ponto alto do dia tive-o na Adega Faustino em Chaves. Daí até Montalegre seria sempre a descer...
Porque o Benfica hibernou.
Adormeceu, tornou-se chato.
Depois do Outono exuberante e dourado, a vizinhança do Inverno faz tremer a equipa.
Que parece preferir o recato do lar à fria noite do estádio.
O Benfica adormeceu, tornou-se chato.
Joga desgarrado, sem alma e sem vontade.
A espaços observam-se lampejos de paixão. A espaços.
Mas não chega.
Não chegou no passado Domingo.
Não teria chegado hoje, tivesse por adversário o Guimarães.
Felizmente era o Sporting...

Montalegre, 28 de Novembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

South Africa

Acredito num bom mundial.
Digo-o agora, com as ideias claras.
Antes da euforia se instalar neste cantinho da Europa.
Antes de ver bandeiras em toda a parte.
Antes de os jornais se pintarem com as cores nacionais.
Antes de os Black Eyed Peas invadirem as rádios.
Digo-o depois de ter encarado o play-off com indiferença.
Depois de ter perdido o entusiasmo de ver Portugal jogar.
Depois de esquecer os nomes dos titulares.
Depois de ter remetido a minha camisola nº 10 ao fundo da gaveta.
Mas digo-o convicto.
Porque, antes de o marasmo se instalar, lembro-me de um jogo fantástico com a Dinamarca, na Luz.
Um jogo digno de qualquer fase final de um mundial.
E porque depois de a indiferença de mim se apossar, vi um jogo pragmático e inteligente.
Em Zenica, sob condições terríveis.
E, esses dois momentos, discretos como devem ser todos os momentos de revelação, mostraram que a Selecção sabe jogar.
De peito aberto, mas também de coração fechado.
Apaixonada quando necessário, cínicamente controladora quando exigido.
Contagiada pelo público se este o merece, de costas para as bancadas quando o recato se impõe. 
Que se mantenha assim.
Que saiba vestir o fato de gala ou o macacão.
E que ambos lhe fiquem bem.
Queira a sorte que a mão de Henry não nos saia na rifa, e faremos um bom mundial.


Matosinhos, 20 de Novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Enke

Soube-o quando cheguei a casa, depois do futebol.
Li a notícia pouco depois de ter tirado as luvas de guarda-redes.
Ironia.
Desapareceu um dos responsáveis por, ainda hoje, quase nos 40, continuar a sair de casa à noite, debaixo de chuva e frio para uma hora de prazer, defendendo uma baliza.
Porque o gozo imenso e inexplicável que tenho dentro do campo é indissociável do prazer enorme que sentia ao ver homens como Preud'Homme e Enke jogar.
Também Baía, Buffon, ou mesmo Ricardo.
Mas Preud'Homme e Enke terão sempre o seu lugar especial. De lendas.
Robert Enke morreu ontem.
Desapareceu, esmagado por uma vida sofrida.
Que ninguém o julgue pelo seu acto.
Mas que o recorde pelo que de melhor fez.


Pedro Rui
Porto, 11 de Novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

ode ao Leão

Depois de inúmeras hesitações, depois de alguns esboços condenados à gaveta, resolvi finalmente versar sobre o Sporting.
Poderia ter escrito "o rival da segunda circular", mas não é assim que o sinto hoje.
O Sporting de hoje não é rival.
Não me desperta ódio, raiva ou sequer irritação.
Desperta-me simpatia e compaixão.
E não é isso o futebol.
Acolheram o nosso João Pinto, e odiei-os.
Tiveram o Jardel e desesperei.
Roubaram o Paulo Sousa e insultei-os com todas as minhas forças.
Hoje resta a sensatez de Liedson, a dignidade de Paulo Bento.
A resignação dos Sportinguistas e a minha compaixão.
Não é isso o futebol.
Futebol é o ódio, crónico e eterno que nutro pelo Porto.
É a indignação que o Boavista de Jaime Pacheco e dos Loureiro provocou.
É olhar de lado para os Bracarenses de hoje...
E não a simpatia condescendente que o Sporting me desperta
Futebol é chamar "mariconço" ao Jesualdo.
Pôr em causa a orientação sexual do Baía ou chamar "Mónica" ao Fernando Couto.
Ou até bailarina ao César Peixoto.
Para Polga, Pedro Barbosa e Paulo Bento pouco sobra.
Apenas condescendência e uma pontinha de simpatia.
Não é isso o futebol.
Por isso, meus senhores, façam o favor de mudar.
Mintam, que é o único que vos resta.
Digam que os 12 pontos são recuperáveis. 
Que o título ainda é possível.
Que a Liga Europa é para ganhar.
Percam tudo. Terminem em 4 ou 5º, pouco me importa.
Mas irritem-me, por favor...


Pedro Rui
Porto, 7 de Novembro de 2009