Bem sei que o futebol não é, por vezes, justo.
Bem sei que nem sempre ganha quem melhor joga.O último jogo de Portugal, contra a Dinamarca, é disso paradigmático.
E não só disso.
Deixa-nos a pensar como é possível não ter conseguido matar o jogo com 3 oportunidades flagrantes para fazê-lo.Como é possível jogar tão bem e perder?
Senti-me perseguido pela dúvida. Durante dias.
E, confesso, foi preciso um e-mail atravessar o canal da Mancha para que a tormenta se dissipasse.
Um e-mail que, revoltado mas certeiro, perguntava porque raio os adolescentes Portugueses idolatram Rui Costa, Figo ou Cristiano, em vez de seguirem as pisadas de Van Nistelroy ou Klose.
Somos de uma geração que cresceu a ver futebol na TV, não no estádio.
Que, graças ao replay e à slow motion, pode observar a beleza de um toque de Valdo, de uma jogada de Maradona.
Que pode deleitar-se com o génio de Zidane. Vezes sem conta.
E é assim que amamos o jogo.
É assim que o aprendemos a amar.
Porque, para nós, é mais importante jogar, do que marcar.
Não marcamos porque valorizamos a beleza do jogo.
Está-nos no sangue.
Preferimos adornar a jogada a matá-la com um inestético golo.
O golo é efémero.
A jogada é eterna. Nos pés de um génio. Nos olhos de um adorador de futebol.
O golo é no estádio.
A jogada na TV.
Em slow motion.
Vezes sem conta.
Pedro Rui