sábado, 20 de fevereiro de 2010

sinais de fogo

Sábado.
Atravessei a rua em direcção ao café, peguei na NS, procurei a costumeira crónica do Joel Neto e nada. Férias.
Resignado desfolhei a bola e detive-me na crónica de Ricardo Araújo Pereira.
Bem escrita, como sempre, mas desta vez com um toque sério. Não era para menos.
O chorrilho de mentiras com que MST nos presenteou na última "Nortada" não dá vontade de rir.
A desonestidade intelectual com que nos vai presenteando sempre que fala de futebol não tem piada.
Dá pena. E revela um complexo de inferioridade deprimente.
Que o Porto não merece.
O Porto tem méritos mais do que suficientes para se afirmar como um grande clube.
Sem precisar de teorias da conspiração, manias da perseguição e de grandes planos maquiavélicos para explicar os seus insucessos.
Que nem insucessos são, pois como MST diz numa das poucas coisas correctas que encontro na sua crónica, o Porto áinda não perdeu nenhuma das competições em que está envolvido.
Por isso me espanta tanto histerismo só porque o Benfica joga futebol como há muito não se via.
Tanto pânico só porque o Benfica está confortavelmente à frente do Porto, como há muito não me lembro.
E tanto desnorte só porque há uma forte possibilidade de o Porto terminar a Liga em 3º lugar.
Fora da Champiuons League.
Acontece, meus amigos.
O futebol é assim.
E só quem o sabe aceitar com lisura pode ser verdadeiramente grande 
O Porto será grande quando olhar mais para si e menos para o Sul.
Será grande quando perceber que ultrapassou os limites da circunvalação.
Quando se deixar de bairrismos bacocos, de regionalismos tontos.
Quando souber perder da mesma forma que sabe ganhar.
Quando no Dragão os cânticos de insultos ao SLB derem lugar a louvores aos azuis-e-brancos.
Quando não precisar de opinion-makers raivosos e dirigentes boçais.
Até lá será apenas um clube regional com grandes resultados.
É pouco.
E é pena.

Pedro Rui
Senhora da Hora, 20 de Fevereiro de 2010

  

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Valência

Cidade que não acarinhou Aimar, não é para mim merecedora de particular respeito.
Rumei, por isso, a Valência sem grandes expectativas.
Entretanto demorei-me na majestosa Ávila.
Passeei-me sem pressa pela magnífica Toledo.
Tudo para retardar a chegada a terras de Joan de Joanes.
Mas, ao contrário da gélida e cinzenta viagem, o dia amanheceu solarengo em Valência.
E o mediterrâneo surgiu-me encantador no Passeig Neptú. Onde, apesar dos 5ºC, espanhóis de provecta idade se protegiam com bronzeador do insano Sol de inverno.
Como encantador me surgiu o centro histórico. Onde se chega adentrando as Torres dels Serrans, vindo da ponte com o mesmo nomeDepois de percorrer os  elegantes Boulevards da margem esquerda do que outrora foi o Túria.
Depois de me demorar, extasiado, com o impressionante Museo de las Bellas Artes.
E antes de me encantar com a megalomania deliciosa da Ciutat de les Arts i les Ciències, projectada pelo Valenciano Calatrava.
Localizada no surreal leito seco do Túria, desviado há décadas, onde coexistem parques, percursos, lagos e campos de futebol. Muitos campos de futebol.
E cidade com futebol nas veias é certamente merecedora de respeito.
Olhei então com outros olhos para o Mestalla, construído sobre um canal de rega de quem herdou o nome.
Lembrei-me então de Kempes, Mendieta, mas sobretudo de Cañizares. De morcego ao peito.
E finalmente bendisse a opção por Valência, neste carnaval.
E anseio um regresso breve.
"...
Valencia, al sentir como perfuma de tus huertas el azahar,
quisiera, en la tierra valenciana, mis amores encontrar.
..."

Pedro Rui
Valencia, 16 de Fevereiro de 2010