domingo, 6 de dezembro de 2009

Cabidela

Começou como começam as grandes histórias, por acaso.
Começou com uma qualquer conversa, no intervalo de um curso em horário pós-laboral.
Precisavam de um keeper, comentou um colega.
Na Maia, aos Sábados à tarde.
O campo, um verdadeiro 20x40, com relvado sintético de última geração.
Irrecusável convite para uma hora de prazer.
Assim foi. Um punhado de jogos interessantes e umas tardes de Sábado bem passadas.
E um encontro feliz com um jogador de futebol. Quem joga sabe que se criam empatias inexplicáveis dentro de campo. Que se estabelecem ligações privilegiadas. Que há jogadores com quem jogamos até de olhos fechados.
Por isso, quando me disse que jogava também às segundas-feiras à noite, no mesmo campo, e que precisavam de um keeper, a minha resposta foi óbvia.
Nunca recuso um convite para uma hora de prazer intenso...
E era realmente disso que se tratava. Uma hora de jogo com um ritmo insano.
Com um espírito competitivo exacerbado.
Como da final da Champions se tratasse.
Loucos gloriosos, a jogar futebol do melhor.
Que com frequência se tornavam o centro das atenções.
Nos períodos de ouro, até os jogadores do campo ao lado paravam para observar.
Era Champions League, com toda a propriedade.
Encontrei ali o jogador mais criativo e divertido que vi jogar.
Surpreendi-me com o empenho e fôlego infindáveis.
Sofri com o mais venenoso pé esquerdo de que me lembro.
Ri-me com os mais desconcertantes golos.
Deleitei-me com o jogo de equipa.
Foram tempos áureos, esses.
Jogos míticos, que recordamos até hoje.
Mas tudo na vida tem um fim.
E as lesões precipitaram esse fim.
Se à primeira lesão grave as segundas-feiras ficaram mais tristes, à segunda terminaram.
Essa segunda lesão que materializou o maior receio de todos.
A mesa de operações e o fim definitivo do futebol.
Os jogos continuaram por mais alguns meses.
Mas foi apenas o prolongar a agonia.
Hoje resta apenas a saudade.
E um jantar anual, em volta de um arroz de cabidela, de 6 ou 7 jogadores que se encontravam para jogar futebol, às segundas-feiras.
Os melhores que conheci.

Senhora da Hora, 6 de Dezembro de 2009

sábado, 5 de dezembro de 2009

de pantufas

Fui traído pelas minhas palavras de cronista de trazer por casa.
Não pretendia em caso algum denotar resignação, com a crónica do Larouco.
E muito menos baixar os braços.
Não os baixei nas longas travessias do deserto com que o Glorioso me presenteia frequentemente.
Não desisiti do Atlético quando uma impensável descida à Série B se abateu sobre BH.
Não deixei de acreditar no América, mesmo vegetando na ridícula Série C do Brasileirão.
Não deixei de confiar no Benfica, por causa de dois resultados pontuais.
Reafirmo: O Benfica vai ser campeão.
Confio cegamente nisso.
Mas sou realista.
Tudo na vida tem seu ciclo. O Benfica de Jesus não é excepção.
Depois de um exuberante Outono, é normal que venha a míngua do Inverno.
Que o frio entorpeça as ideias da equipa.
Que a geada congele a imaginação dos criativos.
Que o vento fustigue o entusiasmo dos jogadores.
Espero que Jesus saiba disso.
E espero que saiba, sobretudo, usar a reserva de motivação amealhada nas goleadas passadas.
Para que se possa passar incólume pelo Inverno.
Porque voltará o entusiasmo da Primavera.
As goleadas voltarão lá para Março.
Encaremos pois a estação que se avizinha.
Mas, antes das rabanadas, é importante um último esforço.
Uma última folha de Outono
Que se vença o Porto.
Sem dúvidas e com categoria.
Depois, que venham as pantufas e a lareira.

Senhora da Hora, 5 de Dezembro de 2009

domingo, 29 de novembro de 2009

o vento do Larouco

Lá fora, ouve-se o silvo da carvalhinha.
O vento do Larouco deixa adivinhar uma noite de frio e de neve, talvez.
Esperava pois, que o jogo de Alvalade servisse para aquecer a noite.
Cedo percebi, no entanto, que dali nada de glorioso resultaria.
O ponto alto do dia tive-o na Adega Faustino em Chaves. Daí até Montalegre seria sempre a descer...
Porque o Benfica hibernou.
Adormeceu, tornou-se chato.
Depois do Outono exuberante e dourado, a vizinhança do Inverno faz tremer a equipa.
Que parece preferir o recato do lar à fria noite do estádio.
O Benfica adormeceu, tornou-se chato.
Joga desgarrado, sem alma e sem vontade.
A espaços observam-se lampejos de paixão. A espaços.
Mas não chega.
Não chegou no passado Domingo.
Não teria chegado hoje, tivesse por adversário o Guimarães.
Felizmente era o Sporting...

Montalegre, 28 de Novembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

South Africa

Acredito num bom mundial.
Digo-o agora, com as ideias claras.
Antes da euforia se instalar neste cantinho da Europa.
Antes de ver bandeiras em toda a parte.
Antes de os jornais se pintarem com as cores nacionais.
Antes de os Black Eyed Peas invadirem as rádios.
Digo-o depois de ter encarado o play-off com indiferença.
Depois de ter perdido o entusiasmo de ver Portugal jogar.
Depois de esquecer os nomes dos titulares.
Depois de ter remetido a minha camisola nº 10 ao fundo da gaveta.
Mas digo-o convicto.
Porque, antes de o marasmo se instalar, lembro-me de um jogo fantástico com a Dinamarca, na Luz.
Um jogo digno de qualquer fase final de um mundial.
E porque depois de a indiferença de mim se apossar, vi um jogo pragmático e inteligente.
Em Zenica, sob condições terríveis.
E, esses dois momentos, discretos como devem ser todos os momentos de revelação, mostraram que a Selecção sabe jogar.
De peito aberto, mas também de coração fechado.
Apaixonada quando necessário, cínicamente controladora quando exigido.
Contagiada pelo público se este o merece, de costas para as bancadas quando o recato se impõe. 
Que se mantenha assim.
Que saiba vestir o fato de gala ou o macacão.
E que ambos lhe fiquem bem.
Queira a sorte que a mão de Henry não nos saia na rifa, e faremos um bom mundial.


Matosinhos, 20 de Novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Enke

Soube-o quando cheguei a casa, depois do futebol.
Li a notícia pouco depois de ter tirado as luvas de guarda-redes.
Ironia.
Desapareceu um dos responsáveis por, ainda hoje, quase nos 40, continuar a sair de casa à noite, debaixo de chuva e frio para uma hora de prazer, defendendo uma baliza.
Porque o gozo imenso e inexplicável que tenho dentro do campo é indissociável do prazer enorme que sentia ao ver homens como Preud'Homme e Enke jogar.
Também Baía, Buffon, ou mesmo Ricardo.
Mas Preud'Homme e Enke terão sempre o seu lugar especial. De lendas.
Robert Enke morreu ontem.
Desapareceu, esmagado por uma vida sofrida.
Que ninguém o julgue pelo seu acto.
Mas que o recorde pelo que de melhor fez.


Pedro Rui
Porto, 11 de Novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

ode ao Leão

Depois de inúmeras hesitações, depois de alguns esboços condenados à gaveta, resolvi finalmente versar sobre o Sporting.
Poderia ter escrito "o rival da segunda circular", mas não é assim que o sinto hoje.
O Sporting de hoje não é rival.
Não me desperta ódio, raiva ou sequer irritação.
Desperta-me simpatia e compaixão.
E não é isso o futebol.
Acolheram o nosso João Pinto, e odiei-os.
Tiveram o Jardel e desesperei.
Roubaram o Paulo Sousa e insultei-os com todas as minhas forças.
Hoje resta a sensatez de Liedson, a dignidade de Paulo Bento.
A resignação dos Sportinguistas e a minha compaixão.
Não é isso o futebol.
Futebol é o ódio, crónico e eterno que nutro pelo Porto.
É a indignação que o Boavista de Jaime Pacheco e dos Loureiro provocou.
É olhar de lado para os Bracarenses de hoje...
E não a simpatia condescendente que o Sporting me desperta
Futebol é chamar "mariconço" ao Jesualdo.
Pôr em causa a orientação sexual do Baía ou chamar "Mónica" ao Fernando Couto.
Ou até bailarina ao César Peixoto.
Para Polga, Pedro Barbosa e Paulo Bento pouco sobra.
Apenas condescendência e uma pontinha de simpatia.
Não é isso o futebol.
Por isso, meus senhores, façam o favor de mudar.
Mintam, que é o único que vos resta.
Digam que os 12 pontos são recuperáveis. 
Que o título ainda é possível.
Que a Liga Europa é para ganhar.
Percam tudo. Terminem em 4 ou 5º, pouco me importa.
Mas irritem-me, por favor...


Pedro Rui
Porto, 7 de Novembro de 2009


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Geometria Variável

Quando li a declaração de amor eterno que Veríssimo dedicou à sua primeira bola, em forma de crónica, viajei até ao Caramulo dos anos 70.
Em que nos deleitávamos em intermináveis jogos de futebol no pátio do Lusitano, antigo sanatório construído por meu avô.
Com a minha primeira bola.
Não era uma "nº5".
Não era de couro.
Não era sequer verdadeiramente uma bola.
O uso intensivo, os estrondosos choques contra as paredes do edifício cedo lhe roubaram a forma esférica.
Mas a imperfeição geométrica nunca foi problema, quando o tema é paixão.
E essa bola era objecto de desejo, veículo de sonhos.
Era jogada num campo, aos nossos olhos perfeito, em que as balizas não eram paralelas entre si.
Não eram sequer centradas no rectângulo de jogo.
Que, por sua vez, nem um rectângulo era.
Limitado, por um lado, pelas paredes do edifício, em forma de trapézio, e por outro por uma curva sebe de loureiros, que se interpunha entre nós e um desnível de mais de 2m.
Enorme abismo que nos separava do silvedo de onde frequentemente tínhamos que resgatar a preciosa bola.
Outras houve, efémeras tentativas de a destronar.
Lembro-me especialmente do dia em que o Jorge, vizinho e companheiro fiel desses jogos, surgiu com uma verdadeira bola "oficial".
De couro, nº5, que seu pai, empregado de um café na Av Lourenço Peixinho em Aveiro, lhe trouxe.
Podia ler-se ainda "Beira-Mar" escrito sobre o couro.
Mas, apesar da sua perfeição, mesmo sabendo que foi usada em jogos da primeira divisão, não nos conquistou.
Era demasiado dura, ameaça constante para as janelas vizinhas, e pesada demais para nós, então com 6 ou 7 anos.
Além disso já conhecíamos de cor os saltos caprichosos da nossa bola.
Já jogávamos com a trajectória ligeiramente curva que tomava.
Era a nossa bola.
E a nossa bola não se trai, não se troca.
Campeonatos sem fim eram jogados naquele improvável "teatro dos sonhos".
Que não trocaria por Highbury, Santiago Barnabeo ou Maracanã. Ou sequer pela Luz.
Porque são inexplicáveis as razões do amor absoluto.
Tornam tudo o resto relativo.
Geometria incluída.

Belo Horizonte, 28 de Agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

normalidade

E eis que, à segunda jornada da Liga Sagres, a normalidade se instala.
O Sporting perde, o Benfica ganha in-extremis, o Porto goleia sabe-se lá como...
Deste lado do Atlântico, também o futebol mineiro parece quere retomar o seu natural rumo, para desgraça minha.
Depois de ter passado 8 jornadas em 1º lugar, o Atlético soma desaires consecutivos que o vão remetendo para meio da tabela.
Onde deverá acabar o Brasileirão.
E onde encontrará certamente o Cruzeiro, que depois de um início desastroso, vai agora conseguindo vitórias importantes que lhe permitiram já sair da zona de rebaixamento.
Felizmente temos o América, de regresso à Série B.
América que vi, com sincera emoção, ganhar ao Brasil de Pelotas por 3-1, em pleno Indepêndencia.
E esse meu regresso ao Horto, 4 anos depois da minha última visita, foi particularmente feliz.
Porque encontrei a mesma torcida de sempre,desta vez alegre, feliz e ansiosa. Porque ao contrário da fase descendente que o América enfrentava em 2005, o tempo é agora de subida, de reconstrução.
Mas continua coerente como poucas, unida como raras.
Tolerante como deve ser.
Insultando educadamente os torcedores rubros do Rio Grande do Sul que se aventuravam sem medo no meio desse mar verde que cobria a rua.
Porque há que respeitar o esforço de quem enfrentou uma viagem de mais 36h de autocarro para ver a sua equipa jogar. E perder.
Tomando cerveja em bares improvisados em quintais.
Repartindo-a, pois assim exige a generosa dimensão das garrafas.
Dentro do estádio, que há muito não via 10.000 espectadores nas bancadas, a sensação é a de estar em família. Entre amigos. Entre Belorizontinos tradicionais, que gostam da cidade, que gostam dos bairros.
Onde reina a tranquilidade apesar da ansiedade inerente ao jogo.
Onde a conversa corre solta, onde se tratam os jogadores por tu.
E foi com incontida emoção que vi o primeiro golo do Coelho, daqueles que só no futebol Brasileiro se permite. Em que o atacante, em vez da eficácia do golo, preferiu o espectáculo, ao driblar o goleiro, pavoneando-se depois sobre a linha de golo.
Ironicamente foi esse desejo de espectáculo que poderia ter condenado o América a mais um ano de Série C.
Que em busca de obras de arte, levou ao desperdício golos irritantemente fáceis que matariam o jogo.
Antes do empate dos Gaúchos.
Foi depois preciso esforço e determinação para voltar a marcar.
E festejar o regresso do Coelho.
Com cerveja e pão com linguíça. Deliciosa iguaria rivaliza com o feijão tropeiro do Mineirão.
E que me fará voltar em 2011.
Com o América a disputar então a subida à Série A, quem sabe...
Porque o Coelhão está de volta!
Venha para já o título da Série C.
Belo Horizonte, 24 de Agosto de 2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Independência

Do meu ritual mineiro é parte essencial uma visita a um dos estádios de Belo Horizonte para assistir a um jogo de futebol.
Perdida a oportunidade de ver o Atlético empatar com o Palmeiras no Mineirão, desesperava já com a perspectiva de falhar pela primeira vez essa etapa.
O alívio chegou finalmente graças ao Renato, "Americano" incondicional, que comprou um bilhete para mim, mesmo desconhecendo a minha disponibilidade...
Acto de fé que me valerá uma entrada no Independência, para o América - Brasil de Pelotas, que poderá decidir o regresso do "Coelho" à Série B do Brasileirão.
Salvo o exagero, o América Futebol Clube, está para o futebol mineiro como o Sporting está para o actual futebol Português.
Clube elitista, que conta na sua torcida com ilustres Belorizontinos, não consegue rivalizar com o popular Atlético, nem com o eficaz Cruzeiro.
Mas nem a travessia do deserto desmotiva a fiel torcida que acompanha o clube na série C.
Por isso não admira que, perante a perspectiva da subida a um patamar mais consentâneo com a sua história, o Independência encha no próximo Domingo com camisolas verdes do Coelho.
Pessoalmente espero que o estádio que viu no mundial de 50 a derrota da Inglaterra frente aos EUA, veja o América subir mais um degrau rumo à série A.
Para isso há que derrotar o Brasil de Pelotas.
No Domingo.
No Independência.
Belo Horizonte, 14 de Agosto de 2009

terça-feira, 11 de agosto de 2009

meia-rendição

É meia rendição este texto.
Rendo-me ao facto de o Benfica de Jorge Jesus estar a jogar bem. Com vontade e paixão.
Ainda não provou nada, é certo. Mas já mostrou algo.
Não venceu competições oficiais. Mas ganhou troféus.
E, se ainda apresenta falhas evidentes na defesa, desequilíbrios flagrantes no plantel, mostra já importantes virtudes.
Virtudes que transfiguraram Di Maria.
Que permitiram que Javi Garcia fizesse esquecer Katsouranis.
Que resgataram Aimar e Saviola do marasmo.
Que, espero, revelem finalmente Fábio Coentrão.
E que façam o Luis Filipe surpreender a Luz…
Virtudes que se esperam duradouras, pois os pontos só começam a ser contados no próximo fim-de-semana.
Mas que já permitiram uma estranha conquista
Porque, ver o Miguel Sousa Tavares reconhecer a qualidade do Benfica, com ironia deslavada mas sem o habitual ódio destilado em grandes quantidades, é já meia-vitória.
Por isso este texto é meia-rendição.
A bandeira branca virá com a conquista da Liga…

Belo Horizonte, 11 de Agosto de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Hala Madrid!

Triste defeso este…
Não há Euro, não há Mundial. E resta-nos Queirós…
No Benfica, nesta estação que costuma ser de esperança desmedida e irrealista, sobra a angústia.
E o vazio.
Os desvarios de Vieira em fim de ciclo, o silêncio cúmplice de Rui Costa.
Paga-se ao velho clube do novo treinador para que este substitua o velho treinador a quem se pagou para sair.
Esperança? Só nas palavras de Jesus que inicia agora a sua aventura.
Via Crucis ou caminho da glória.
Em Maio se saberá se o seu destino foi o arco do triunfo ou o Monte Gólgota.
Espero evidentemente o segundo, mas temo sinceramente o primeiro…
Felizmente há Cristiano Ronaldo.
Só ele para animar o defeso.
Só ele para me fazer sentir merengue outra vez.
E só o Real para relembrar que a loucura ainda é possível.
Kaká e Ronaldo na mesma equipa, no mesmo ano é insano.
Mas é assim o futebol…

Por isso já se canta em Madrid...

Los domingos por la tarde,

caminando a Chamartin,
las mocitas madrileñas,
las mocitas madrileñas
van alegres y risueñas
porque hoy juega el Madrid.

Hala Madrid! Hala Madrid! Hala Madrid!

Pedro Rui

terça-feira, 26 de maio de 2009

10

A um nº10, mais do que a qualquer outro jogador, pede-se inteligência.Exige-se clareza de ideias, rapidez de pensamento, capacidade de previsão.
Se dentro do campo Rui Costa revelou essas qualidades, fora dele revelou uma preocupante falta de visão estratégica.
Deixou-se encurralar junto aos centrais, cedeu as linhas de passe e perdeu a possibilidade de organizar o jogo. Nessa posição, o máximo a que pode ambicionar é aliviar a bola, não comprometendo ainda mais o jogo.
E esperar por um qualquer golpe de génio que inverta a tendência dos acontecimentos.
Porque, seja qual for o desfecho do caso Quique Flores, Rui Costa já perdeu.
Se Quique sair, o seu plano, apresentado há um ano aborta sem honra nem glória.
E arrasta o Benfica para mais do mesmo.
Para a via crucis habitual: novo treinador, renovação de balneário, mais um ano perdido.
Se assim for, não me admiraria se etivessemos, em Maio de 2010 a discutir quem será o sucessor de Jorge Jesus.
Mas, se Quique ficar, como apesar de tudo desejo, a sua legitimidade surgirá irremediavelmente diminuida.
Porque, ao responder com um ensurdecedor silêncio aos sucessivos títulos da voraz imprensa desportiva, Rui Costa deixou pairar sobre a cabeça de todos o fantasma de que, se o Espanhol ficar será apenas porque o Benfica não quer ou não pode pagar a cláusula de rescisão de 3.500.000€.
Caiu num redil para o qual eu não vejo saída.
Espero que ele veja.
Porque se com a camisola vermelha, viola ou rosso-nera Rui Costa sempre me encantou, espero agora que, de fato e gravata me surpreenda com um toque de génio.
Ou um golo de levantar a Luz.

Pedro Rui

domingo, 10 de maio de 2009

A idade da inocência

Berlin, 1997.
No Estádio Olímpico a Selecção Portuguesa vencia a poderosa MannSchaft por 1-0, o que garantia o desejado apuramento para o Campeonato do Mundo do ano seguinte.
Tudo parecia correr bem, quando Rui Costa recebe a indicação de substituição.
Aí, entra em jogo o árbitro francês Marc Batta, que imbuido de um excesso de rigor impensável penaliza o vagar na saída do nº10 com o segundo cartão amarelo e consequente expulsão.
O desnorte apodera-se do jogo Português, que permite o empate alemão e o consequente afastamento do Mundial.
O uso de força desproporcionada por parte de Batta privou Portugal dessa vaga, que merecia.
12 anos depois, o mesmo Rui Costa dirige ao árbitro que apitava o Benfica-Marítimo algumas palavras pueris, de indignação pela sua actuação e é castigado com 1 mês de suspensão.
É mais uma vez evidente a desproporção do castigo aplicado face ao acto em questão.
As suas palavras reproduzidas no relatório do jogo, surpreendem pela sua polidez e por não incluirem as habituais referências à orientação sexual do árbitro ou à actividade profissional da sua mãe.
É evidente que também aqui a Liga de Clubes se sentiu imbuida do mesmo excesso de rigor que afectou o Sr Batta.
E, se as consequências de Berlim são sobejamente conhecidas, nunca saberemos se esta atitude não custou ao Benfica o 2º lugar da Liga.
Rui Costa já não joga, é verdade. Mas ninguém nega a importância que tem no seio da equipa de futebol.
Mas, mais do que isso, este episódio revela a animosidade reinante em relação ao Benfica.
Animosidade por parte dos árbitros.
Árbitros que, na dúvida, não hesitam em prejudicar o Benfica.
Que erram ostensivamente com a certeza de impunidade.
Só assim se explica a quantidade de erros grosseiros com influência no resultado que ocorreram este ano.
Lembro os golos mal anulados contra o Nacional e Académica na Luz, a queda de Lisandro no Dragão, o golo com dois foras-de-jogo do Trofense, só para citar os mais evidentes.
Erros que beneficiaram a Benfica também os houve. O da final da Taça da Liga contra o Sporting ficará na história.
A diferença é que Lucílio Batista foi crucificado na praça pública. Enxovalhado um pouco por toda a parte.
A comunicação social deu largas à sua voracidade e a inexistente mão de Pedro Silva foi motivo de notícia durante uma longa e penosa semana.
Ao contrário, os erros grosseiros que enumerei são, quando muito, citados e esquecidos rapidamente.
Mas, por parte dos jornais, animosidade não termina aqui.
É com despudor que a imprensa, e não me refiro apenas aos jornais desportivos, se armou de uma hostilidade contra Quique Flores, empurrando-o pela porta fora, até à exaustão.
Que a nossa imprensa é no geral acéfala e alinhada com os tons cinzentos do politicamente correcto não é novidade.
Mas, no que a futebol diz respeito, sempre encontrei na imprensa não-desportiva isenção e frontalidade em doses razoáveis. Excepção feita ao JN, que confunde as suas origens geográficas com sectarismo.
Espanta-me por isso ver hole a unanimidade reinante julgando feroz e injustamente a época de Quique.
Incendiando os ânimos Benfiquistas, patrocinando os lenços brancos que são notícia sempre que se vislumbram nas bancadas da Luz.
Esquecendo o essencial.
E o essencial é que o Benfica está hoje melhor do que na época pasada.
Joga melhor, tem mais pontos, tem um plantel mais equilibrado e competitivo.
E que estamos apenas a meio do contrato com Quique Flores.
Terminar a ligação neste ponto é frustrar um projecto.
Julgar Quique agora é prematuro e soa a linchamento.
É sobre esta hostilidade reinante que Rui Costa deve reflectir.
Que urge entender e contrariar.
Só assim poderemos esperar tranquilidade para apróxima época.
Porque mais do que trocar de jogadores e treinadores, deveríamos trocar de árbitros e jornalistas.
Se tal não for possível, temos que mudar de atitude.
E sair da idade da inocência.

Pedro Rui



domingo, 26 de abril de 2009

Volta...

Somos bons a descobrir conspirações.
Lava-nos a alma encontrar um bode expiatório.
Uma explicação glamourosa para os pequenos precalços da vida.
Uma grande cabala para ocultar grandes deslizes.
A campanha negra do Freeport ou a conspiração para lesionar Hulk.
Sócrates não tem dúvidas.
Tomás Costa traduz, em castelhano, o que o balneário Portista já sabia.
Estranha-se que nada tenha feito para o proteger.
O clube preocupa-se agora com a protecção aos jogadores talentosos, alvos de marcação impiedosa.
E com os árbitros que demonstram complacência perante tais acções.
O clube que acolheu com orgulho Paulinho Santos, Jorge Costa ou Fernando Couto.
Que defende a forma impetuosa de Bruno Alves disputar a bola.
Que vê em Pedro Emanuel uma referência.
E que ridicularizou ao limite a frase "deixem jogar o Mantorras"...
Sim, coerência nunca foi apanágio do Dragão.
Mas o ridículo comunicado da SAD, seco e pretensamente objectivo, teve em mim um insuspeito efeito.
Fez-me ansiar pela volta de Pinto da Costa às declarações públicas.
Dele, do portador de alegrias, sempre soube o que esperar.
Declarações deselegantes, roçando a boçalidade, cheias de risonha hipocrisia.
Transvestidas de frases sérias, com uma pitada de humor.
Vislumbrando a óbvia verdade que só os mal intencionados sulistas recusam.
Sim, é assim Pinto da Costa.
Mas dele sabemos o que esperar.
O anedotário popular beneficia sempre que fala.
Da SAD só o ridículo.
Como citar Newton para justificar a queda de Lisandro no célebre Penalty de Pedro Paixão...
Volta Jorge Nuno, estás perdoado.

Pedro Rui

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Porto

Por muito que me custe, e custa realmente muito, tenho que reconhecer que o Porto vencerá esta edição da Liga.
Com justiça e sem grandes casos.
Soube controlar os seus desaires, soube aprender com eles.
Passeou sobranceiramente no Afonso Henriques como em Old Trafford.
Mas em ambos sofreu golos com responsabilidade objectiva da sua defesa.
Em Guimarães Bruno Alves falhou sobre Roberto.
Em Old Trafford repetiu a graça com um passe para Rooney, que ficará na história.
Acontece aos melhores.
Já o segundo golo, em que, ao vagar da defesa azul, às demoradas indicações de Helton, responderam Rooney e Tevez com um golo seco e certeiro, revela uma preocupante desconcentração colectiva.
E se a concorrência interna não parece ter engenho suficiente para aproveitar esses momentos, só a próxima semana determinará a se o Manchester a soube aproveitar realmente.
A próxima semana dirá se foi um sobressalto no sonho ou o início do pesadelo.
Espero que seja o segundo. Atemoriza-me o primeiro.
Porque ao contrário do Joel Neto, não me orgulho dos êxitos portistas.
A proximidade física impede-mo.
Vibraria sim, com uma vitória do humilde Sporting frente ao Bayern.
Saíria à rua se o regional Braga derrotasse o Paris Saint-Germain.
Quanto ao Porto, reconheço a mesquinhez que me fez ser Colchonero e Red Devil.
E que, se as coisas correrem mal na próxima semana, me transformará num Gunner devoto de Arséne Wenger.
É verdade, o futebol é divisão.
Divide inimigos eternos.
Mas também é união, ao unir esporadicamente adversários distantes.
É assim mesmo, e Deus nos livre que assim não seja.
Pedro Rui

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Paixão

Na vida, no que à paixão diz respeito, não há lugar para meias-medidas.
Não há espaço para poupança.
Se vale a pena, e toda a paixão vale a pena, o único caminho é a entrega total.
O empenho sem restrições.
E, mais do que vida, futebol é paixão.
Mais do que de cautela, vive de entrega.
E, mais do que desinspiração, foi a poupança que traiu o Porto.
Ao querer resguardar os seus trunfos no jogo contra o Sporting, Jesualdo traiu o futebol.
Ao encarar com sobranceria a taça da Liga, revelou uma recorrente falta de paixão.
Ao invés, Quique Flores demonstrou que qualquer jogo interessa.
Que qualquer competição vale a pena.
Que quem quiser jogar de águia ao peito, tem que o fazer com paixão.
Tem que demosntrar empenho.
Exibiu amor incondicional ao jogo.
Ganhou com isso uma equipa.
Motivada porque empenhada.
E foi a equipa supostamente cansada a dar uma lição de entrega às vedetas poupadas ao esforço do meio da semana.
Maxi não deu espaço a Rodriguez.
Sidnei dominou com garbo o poderoso Hulk.
Lucho raramente se libertou de Katsouranis e Yebda.
David Luis vulgarizou quem tentou o corredor direito.
E estivesse Suazo em melhores condições físicas, fosse Di Maria um pouco menos egoísta, mas sobretudo, fosse Pedro Proença mais competente e o resultado seria outro.
O líder do campeonato seria hoje mais justo.
E o futebol mais apaixonante.

Pedro Rui
(para a Ana, sem concessões...)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Pedro Mantorras

Se avaliarmos o valor de um indivíduo em função dos afectos criados, então Pedro Mantorras não tem rival no panorama do futebol Português...
E se não é hoje um jogador de excepção, deve-o à crueldade do futebol.
Aos azares da vida, que lhe roubaram a carreira, mas não impediram a veneração dos Benfiquistas.
Pelo contrário.
A sua capacidade de sobrevivência serviu apenas para o elevar à categoria de lenda.
Porque, cada vez que o seu joelho sucumbe, cada vez que lhe decretam o fim da carreira, ele teima em renascer e surgir, imorredouro e messiânico, qual D. Sebastião emergindo do Tejo no Cais das Colunas.
Como subiu ao relvado da Luz no meio do dilúvio, no último domingo.
Onde, apesar do dilúvio e depois de meio campeonato perdido, lhe bastaram 4 minutos para fazer o que melhor sabe: salvar o Benfica.
Com magia negra.
Porque basta-lhe levantar-se do banco para as bancadas se transfigurarem.
A sua entrada em campo, faz a equipa transcender-se.
E quando Mantorras marca,o transe colectivo instala-se no estádio.
É assim Pedro Mantorras.
Pertence-nos.
É património do Benfica.

Pedro Rui