domingo, 28 de dezembro de 2008

Balanço

Como escrevi no início da época, paciência seria determinante para que o Benfica pudesse crescer como equipa.
Que os previsíveis deslizes deveriam ser encarados como tropeções inevitáveis de quem aprende a andar.
Assim foi.
Os adeptos souberam resistir sem sobressaltos a uma decepcionante carreira na UEFA e a uma prematura eliminção da Taça.
Curiosamente é agora, neste fim de ano que o Benfica comemora em 1º lugar na Liga, que surgem na rua vozes de impaciência e de incompreensão.
Prontamente amplificadas pela imprensa, essa voraz máquina que tem que justificar com notícias, a existência de 3 diários desportivos.
Não esperava, mas mais do que Aimar, mais do que Urreta, é Quique Flores o alvo da vox populi.
E a falta de qualidade, mas sobretudo de consistência do jogo da equipa, o móbil para tais ataques.
"Porque não se repete duas vezes a mesma equipa", ouve-se por esse país fora...
Cada cabeça sua sentença, bem sei.
Mas é com ironia que vislumbro nessa alternância de jogadores um ponto de força, mais do que de fraqueza.
Porque qualquer equipa que queira ser realmente grande tem que contar com um leque alargado de jogadores que podem entrar sem sobressaltos no esquema de jogo delineado.
Qualquer jogador que queira jogar de vermelho tem que conhecer o banco, tão bem com conhece o rectângulo mágico.
A convocatória para o próximo jogo tem que ser recebida com ansiedade por quem sonha nela figurar.
E o único caminho para o merecer tem que ser o trabalho durante a semana, não o nome nas costas.
Não podemos voltar ao passado, em que o plantel se resumia a 11 jogadores essenciais.
Em que o pânico se instalava quando Simão não podia jogar.
Quando Luisão era castigado. Quando Quim se lesionava.
Jorge Ribeiro tem que merecer o lugar de David Luiz.
Cardozo tem que mostrar que é melhor que Suazo.
Quim terá que encontrar o caminho de volta à a baliza de Moreira.
Sidnei tem que conquistar o lugar de Miguel Vitor.
E Nuno Gomes o de Aimar.
É esse o caminho.
O 1º lugar e, sejamos honestos, o futebol praticado, consideravelmente melhor do que o das
últimas temporadas demonstra-o.

Haja paciência.
E os resultados surgirão.
Em 2009, são os meus votos.

Pedro Rui


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

fraude

fraude:
acto de má-fé praticado com o objectivo de enganar ou prejudicar alguém; burla; engano; logração

Anular um golo, precedido de penalty por mão de um jogador no Nacional da Madeira em plena grande área, assinalando falta contra o Benfica não merece outra definição.

Pedro Rui

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

noite de ilusões

Esperava uma noite Europeia, ontem
17 exactos anos após esse histórico 6 de Novembro de 1991, em que o Benfica derrotou, em Londres o Arsenal por 3-1.
Esperei em vão.
O pragmatismo do Galatasaray, mas sobretudo a noite apagada dos jogadores encarnados, não fez juz à história.
Noite apagada de todos, sem excepção relevante.
Cito apenas dois, que se contam entre os meus favoritos: Yebda e Katsouranis.
Porque qualquer equipa depende hoje do acerto e do trabalho do meio-campo.
E depende sobretudo, e esta é uma opinião pessoal, da sua componente mais defensiva.
Na Luz, quando Yebda ou Katsouranis, quando pelo menos um deles, faz um bom jogo, o Benfica faz um bom jogo.
Quando ambos se apresentam inspirados, é provavel que o futebol mereça veneração.
As bolas recuperadas chegam rapidamente aos criativos ou aos extremos, e a baliza aversária transforma-se em alvo.
Mas quando ambos falham, o que, felizmente ocorre poucas vezes, o jogo torna-se desconexo e lento.
Pesado e chato.
Foi assim ontem, sobretudo na segunda parte.
O que vi na Luz foi um Yebda desatento, demorando demasiado a pressionar, a falhar sistematicamente cortes.
A gastar toda uma eternidade a pensar o passe seguinte.
E, em futebol, um passe demorado é normalmente um passe falhado.
Vi também o jogo desconcentrado de Katsouranis, que ainda não recuperou o brilho da primeira época de águia ao peito.
Desconcentrado e trapalhão.
E a equipa ressentiu-se.
Com os jogadores mais avançados a recuar para entrar no jogo.
Mas, ao fazê-lo, nunca estavam onde deviam: na frente de ataque.
O dom da obiquidade, ainda não mora na Luz...
E o desacerto permitiu aos Turcos o jogo que lhes interessava.
Cínico e eficaz. Seguro e bem pensado.
Europeu, diria.
Como Europeu foi o ambiente vivido nas bancadas.
E só por isso valeu a pena a ida a esse magnífico Estádio.
Digo-o eu e dirão os mais de 46.000 presentes.
Que criticaram os jogadores quando se impunha, mas que não vaiaram nenhum dos seus.
Uma multidão que caiu desolada com os dois golos turcos, mas que não deixou de apoiar a equipa.
Até ao fim, até ao apito final.
Benfiquistas que fizeram a sua parte.
E que esperam a retribuição dos jogadores.
Que esperam o 32º campeonato.

Pedro Rui

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A expulsão de Reyes

Não raras vezes, a arte imita a vida.
O futebol, como arte não é excepção.
E o que se passou ontem, no D. Afonso Henriques, é disso um bom exemplo.
Quando as coisas parecem correr bem, a rotina encontra terreno fértil.
E cresce fazendo tudo parecer imutável, inevitável.
Floresce a preguiça que nos impele a não pensar muito.
O mais cómodo é seguir o caminho sem grande alarido.
Ganhar ao Guimarães por 2-0, num jogo que se antevia difícil é um incentivo à preguiça.
E é fácil sucumbir ás mãos do hábito. Demasiadamente fácil.
Mas, quando temos sorte, surge um qualquer acontecimento inesperado, sacudindo o marasmo, agitando as águas.
Uma expulsão, temperada com uma pitada de injustiça, que nos deixa em inferioridade.
A resistência à mudança, insuportavelmente humana, depressa a rotula de adversidade.
Ou mesmo de catástrofe.
Esbracejamos, o que só contribui para nos afundarmos na areia movediça.
Mas, se pararmos um pouco, a clarividência acode-nos.
E, se houver vontade, surge então a reacção.
Se o que ficou escondido por debaixo da rotina tiver qualidade, se o que esquecemos, adormecido valer apena, a reflexão trará clareza.
E, com clareza, o jogo está ganho.
Cada movimento é então cuidadosamente pensado.
Cada jogada é encarada como decisiva, e é imaginada como tal.
Cada passe é estudado à luz das suas consequências.
Passamos a olhar para todo o campo, quando antes não vislumbrávamos mais do que um pequeno pormenor.
E o resultado surge, não imediata mas inevitavelmente.
E o resultado é segurança e crescimento. Amadurecimento e sucesso.
Que será tão longo e duradouro quanto maior for a distância a que a rotina for mantida.
É assim na vida.
E se assim for no futebol, o Benfica regressou de Guimarães infinitamente mais maduro.
Mais campeão.

(Para a Ana, que me entende melhor que ninguém)

Pedro Rui

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

sobre brasas

Foi um jogo infeliz, reconheço.
Infeliz e fraco.
Queirós tentou surpreender na tática, mas errou nos escolhidos.
Miguel não tem lugar na direita.
Quaresma esteve ao nível do pior que lhe conhecemos.
Individualista e inconsequente.
Nani perdeu-se, sem saber muito bem o que fazer.
Ronaldo bem tentou, mas não lhe saiu bem, o jogo.
É difícil de aceitar, mas acontece.
Há noites assim.
Mas Queirós esteve mal.
Mal nas opções
Nuno Gomes deveria ter entrado mais cedo.
Carlos Martins teria sido uma opção interessante.
Mal nas reações, intempestivas, de cabeça perdida.
Igual a si mesmo, há 10 anos atrás, nos tempos do Sporting e da primeira passagem pela Selecção.
Mas nada justifica a crucificação pública por parte dos media.
Que não hesitam em apelidar de inaceitável este resultado.
Que não se cansam de por em causa as escolhas do Seleccionador.
E que curiosamente se calavam ao primeiro berro de Scolari.
Não se lembram, agora, do empate a 2 com o Lichtenstein, na qualificação apara o Mundial da Alemanha.
Não recordam o jogo com a Arménia, que terminou 0-0, rumo ao Euro-2008.
Sejamos realistas: resultados como estes são cada vez mais frequentes.
Nunca ficaremos satisfeitos com eles, mas teremos que os aceitar.
Com calma e serenidade.
Calma e serenidade de que Queirós necessita, para levar até ao fim o seu contrato.
E que terá que vir de todos, Madaíl incluído.
O Comandante deverá ser o último a abandonar o navio.
Não lhe fica bem abandonar a tribuna a 10 minutos do fim do jogo.
Calma e serenidade é o que precisamos para dobrar o Cabo da Boa Esperança.
Lá para 2010.
Sem ela não chegaremos nem ao cabo das Tormentas.
Onde Adamastor nos espera.

Pedro Rui



domingo, 5 de outubro de 2008

Tio Júlio

in "Filosofia de Ponta", Julio Pinto / Nuno Saraiva

Dele direi que foi a primeira pessoa a deixar-me a certeza de que o pouco tempo que
partilhámos foi isso mesmo: pouco.

Porque foram escassas as luminosas noites de Santo António dos Cavaleiros.
Escassas mas intensas, cheias. De desbragada conversa, de excessos gastronómicos, de vapores etílicos.
E foram escassas porque as julgava abundantes.
Haveria sempre um amanhã, depois do hoje.
O tempo era no fundo um bem inesgotável.
Mas essa certeza desabou, quando na manhã de 6 de Outubro, ouvi na TSF a curta notícia da morte do Júlio Pinto.
Não desabou, no entanto, tudo o que sem saber me deixou.
E deixou-me a certeza de que o mundo não é exactamente preto e branco, tal como o via.
De que não há verdades absolutas, e não há, sobretudo, verdades inquestionáveis.
De que o nosso percurso na vida não é tão simples como uma linha recta.
O dele não foi.
E talvez por isso o recorde hoje.
Com saudade e com admiração.

Pedro Rui

http://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BAlio_Pinto
http://rprecision.blogspot.com/2005/10/jlio-pinto.html

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Maradona joga na Luz

Confesso que não esperava.
Não esperava ver o Nápoles sair derrotado da Luz.
Não esperava ter tanto prazer em ver o Benfica jogar.
Não esperava.
Não esperava ver o que hoje vi.
O que vi hoje surpreendeu-me.
E o que vi foi um Benfica dominador, autoritário, a jogar futebol consistente e de grande qualidade.
Vi Ruben Amorim a espalhar classe pelo campo.
Vi Sidnei a esbanjar segurança.
Yebda a dominar o espaço.
Vi Luisão a recuperar uma bola a meio campo
E vi, ao invés de um alívio, uma entrega perfeita a Katsouranis.
Vi o grego, sem demora a abrir para Reyes.
Vi Reyes a marcar, mais uma vez, um grande golo de pé esquerdo.
Simples. Mais simples não podia ser.
Mas revela a preocupação em construir jogo.
Revela a obcessão por ter o domínio da situação. Sempre.
E, perante o desespero dos Italianos, vi calma.
Toda a calma do mundo na forma como Carlos Martins cruza para Nuno Gomes.
Para o exacto local para onde Nuno Gomes se desloca.
Calma na forma como o 21 cabeceia e marca.
Vi o génio de Di Maria à solta.
A quem falta pulmão, é certo.
Mas o génio está lá.
O pulmão virá com trabalho.
Futebol já temos.
Os resultados virão com trabalho.
E os título como o tempo.

Pedro Rui

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Derby

Os derbies são frequentemente jogos enganadores.
Não raras vezes vimos o Benfica subir ao relvado autoritário e decidido, em plena depressão de resultados, em períodos de abstinência futebolística, e derrotar sem apelo nem agravo, o arqui-rival de Alvalade.
Os clássicos contra os Azuis da Invicta, também o são, enganadores. Mas há nestes uma nuance diferente.
Mas falemos hoje de um derby, do último Benfica-Sporting.
Esse que foi um derby atípico. Porque espelhou a real condição de ambas as equipas.
O Sporting entrou decidido e com a lição estudada, tentando tirar partido da juventude dos centrais, Sidnei e Miguel Vitor, cujos 19 anos de vida, deixariam adivinhar alguma inexperiência.
Entrou decidido mas falhou a oportunidade de marcar e transformar o jogo. Mais Sporting. era impossível.
O Benfica reagiu, com garra e com preocupações construtivas, marca de Quique.
Se há, aliás, característica que me entusiasma neste Benfica, é a preocupação de construir.
De destruir somente quando outra alternativa não resta.
De encarar qualquer recuperação como início de uma jogada, seja em que posição for.
De passar, em vez de aliviar. De entregar em vez de despachar.
É uma estratégia arriscada, que trará certamente alguns dissabores.
Mas compensa. Decididamente compensa.
Os jovens centrais, ainda sem vícios, fazem-no com desenvoltura.
Léo como grande lateral que é, sempre o fez. Maxi, estou certo, fa-lo-à, com o tempo.
Yebda, que ao contrário do que destila Miguel Sousa Tavares, não é nem remotamente parecido com Fernando Aguiar, pode desempenhar também um importante papel nessa estratégia de construção.
Ao contrário de Fernando Aguiar, jogador que cumpriu honestamente o que lhe foi pedido pela sua passagem pela luz, onde foi, aliás campeão, mas que nunca foi acarinhado no terceiro anel.
Só um portista, atormentado pelo complexo nortenho o pode pensar.
Yebda foi importante na primeira parte, mas surpreendeu na segunda, quando subiu ao corredor direito, deixando a protecção dos centrais a Katsouranis, esse grego que felizmente ainda veste de Vermelho.
Foi aliás esta estranha movimentação que tornou inofensiva a estratégia do Sporting.
Assegurada então uma solidez defensiva mínima, foi apenas necessário deixar fluir a capacidade técnica de Aimar, a vontade de Carlos Martins e a classe de Reyes.
O Benfica ganhou um jogo que podia muito bem ter perdido, tivesse Djaló marcado nos primeiros minutos.
Um jogo que espelhou uma equipa em construção, mas que demonstra um interessante potencial.
É instável, mas joga o melhor futebol que vi na Luz nos últimos anos.
Pode falhar, já amanhã contra o Nápoles, mas continuará a crescer.
Haja paciência e trabalho.

Pedro Rui



segunda-feira, 15 de setembro de 2008

quem vê TV

Bem sei que o futebol não é, por vezes, justo.
Bem sei que nem sempre ganha quem melhor joga.
O último jogo de Portugal, contra a Dinamarca, é disso paradigmático.
E não só disso.
Deixa-nos a pensar como é possível não ter conseguido matar o jogo com 3 oportunidades flagrantes para fazê-lo.
Como é possível jogar tão bem e perder?
Senti-me perseguido pela dúvida. Durante dias.
E, confesso, foi preciso um e-mail atravessar o canal da Mancha para que a tormenta se dissipasse.
Um e-mail que, revoltado mas certeiro, perguntava porque raio os adolescentes Portugueses idolatram Rui Costa, Figo ou Cristiano, em vez de seguirem as pisadas de Van Nistelroy ou Klose.
Somos de uma geração que cresceu a ver futebol na TV, não no estádio.
Que, graças ao replay e à slow motion, pode observar a beleza de um toque de Valdo, de uma jogada de Maradona.
Que pode deleitar-se com o génio de Zidane. Vezes sem conta.
E é assim que amamos o jogo.
É assim que o aprendemos a amar.
Porque, para nós, é mais importante jogar, do que marcar.
Não marcamos porque valorizamos a beleza do jogo.
Está-nos no sangue.
Preferimos adornar a jogada a matá-la com um inestético golo.

O golo é efémero.
A jogada é eterna. Nos pés de um génio. Nos olhos de um adorador de futebol.
O golo é no estádio.
A jogada na TV.
Em slow motion.
Vezes sem conta.

Pedro Rui





quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Valeu a pena?

Portugal mudou.
Jogou-se futebol, hoje.
Jogou-se muito futebol.
Porque mudou, Portugal.
Acabou-se a família.
Acabaram-se os lugares cativos.
Carlos Martins foi para a bancada.
Ricardo ficou em Sevilha
Acabaram-se as cautelas.
Não jogámos para o empate.
Não defendemos o 1-0.
Tentámos ganhar. Tentámos ganhar sempre.
Perdemos, é certo.
Mas tentámos ganhar.
Durante 90 minutos tentámos ganhar.
Portugal mudou.
Talvez com Scolari tivéssemos ganho.
Teríamos sofrido, mas talvez os 3 pontos ficassem em Alvalade.
Teríamos desesperado, mas estaríamos na frente do grupo.
Estaria agora mais satisfeito?
Não. Definitivamente não.
Com Queirós, pude sorrir durante o jogo.
Com esta Selecção o prazer de ver futebol voltou ao meu sofá.
Valeu a pena, portanto.

Portugal mudou.
Acabou o sofrimento.
Voltou o futebol.
Perdeu com a Dinamarca.
Mas o futebol ganhou.
Portugal mudou.
Pedro Rui

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Começou...

Começou finalmente o Campeonato.
Liga Sagres, chama-se este ano.
E começou com a normalidade dentro do campo. E fora dele.
Dentro do campo o Glorioso começou com um empate no Estádio dos Arcos, em noite de nevoeiro. Normal.
Fora dele, os adeptos suspiram por D Sebastião, incarnado num Argentino recém- medalhado em Pequim.
E essa impaciência, esse desejo messiânico é também normal no terceiro anel.
Infelizmente.
Infelizmente, porque de paciência, mais do que resultados estrondosos, é do que precisamos agora.
Para interromper esse ciclo vicioso que, ano após ano transforma a expectativa em desilusão.
E a desilusão em desencanto.
Esse ciclo que tritura jogadores, que engole treinadores.
Devemos começar a época à espera de trabalho sério.
Não de que "seja este o ano do Benfica".
Que "acorde o monstro adormecido".
Que nos tornemos " um dos maiores clubes da Europa"...
Lá chegaremos. Com paciência.
Só com paciência podemos dar espaço a Quique Flores para que faça o seu trabalho.
Só com confiança os jogadores terão oportunidade de mostrar o seu jogo.
Sejamos nós capazes de esperar, e este ano será ano de Benfica.
Não necessariamente de títulos.
Não necessariamente de resultados estrondosos.
Mas de paciência. De futuro.
Em que cada jogo sério que diputamos seja uma conquista.
Em que cada jogador integrado seja uma vitória.
Em que cada adepto que se reconheça no trabalho de equipa seja um golo.
Os títulos, esses pertencem ao futuro.
E o futuro pertence-nos.
Haja trabalho.
Haja paciência.

Pedro Rui

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

JVP

É o ciclo da vida.
Todos os futebolistas, mesmo os eternos, decidem um dia pôr fim à carreira.
Também para João Vieira Pinto chegou a hora de anunciar a retirada.
João Vieira Pinto, um dos mais brilhantes futebolistas de sempre.
Um dos mais controversos.
Um dos mais injustiçados, também.
Dono de uma técnica invejável, imparável com a bola nos pés, desconcertante sem ela, nunca deixou ninguém indiferente.
Se no campo é quase consensual o seu talento, fora dele suscita reacções opostas.
Contribuiram para isso algumas atitudes e situações em que caiu ou se deixou cair.
Cito apenas o caricato episódio do "rapto" por Sousa Cintra e o resgate encarnado, nesse verão de desertores da Luz. Não lhe ficou bem.
Mas fico-me por aqui, porque considero que é o que fez dentro de campo que deve marcar a apreciação da sua carreira.
E aí foi um jogador incontornável em qualquer análise séria que se faça dos últimos 20 anos do futebol Português.
Foi a ele que coube a hercúlea tarefa de carregar o Benfica às costas, durante o deprimente período que se seguiu à purga de Artur Jorge.
Assumiu as despesas e fê-lo como ninguém.
E foi absolutamente decisivo nessa fase.
E como todos os jogadores decisivos foi sistematicamente castigado, impiedosamente marcado.
Era o alvo a abater, o homem a anular.
Porque assim se anulava o Benfica.
Mas não era fácil, que o diga Paulinho Santos.
Tornou-se então alvo da maldicência dos adversários. Da inveja.
Repetidamente foi rotulado de "fiteiro", acusado de simular faltas, de cavar penalties.
Aguentou-se, apesar disso.
Porque esse é o reverso da medalha da fama, da notoriedade.
E aguentou também a incompreensível e sumária dispensa do plantel encarnado, às portas do Euro 2000.
Vítima da deriva autoritária, populista e cega de Vale e Azevedo.
Mas a esta humilhação pública, respondeu com um Europeu fantástico, e com um golo, o 2-2 à Inglaterra, que permanecerá para sempre como um dos mais belos golos marcado na história do campeonato.
E respondeu com um contrato com o Sporting.
Respondeu com dois campeonatos nacionais ganhos de leão ao peito, que terminou com os 18 anos de jejum, que já alimentava o anedotário popular.
Não resistiu tão bem ao linchamento público de que foi alvo após a inacreditável tesoura com que presenteou um adversário Coreano nesse deprimente Mundial de 2002, nesse Mundial de António Oliveira.
E se essa falta despropositada e dura foi incompreesível, que dizer da reacção intempestiva que culminou com a agressão ao árbitro? Sem perdão, foi a frase que então me ocorreu.
E terá ocorrido também a Scolari, que o riscou sumariamente da Selecção.
Pareceu-me lógico na altura.
Olhando para trás, revendo a sua carreira, não estou tão certo disso hoje. Penso que teria merecido um castigo exemplar, é certo, mas também uma nova oportunidade.
Porque prefiro lembrar o João Vieira Pinto dos célebre 6-3 ao Sporting de Queirós.
Ou da genial jogada com que desbaratou a defesa alemã, em pleno Estádio da Luz, culminando com um remate sobre a direita, defendido pelo grande Andreas Kopke.
Merecia golo, essa jogada.
Como merecia outro final a sua carreira.
Quem gosta realmente de futebol não vai esquecer João Vieira Pinto.
Eu não esquecerei.

Pedro Rui




quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rhodes, cidade universal

Confesso que não sou daqueles viajantes que investiga exaustivamente os locais que visita, que prepara ao pormenor as viajens que faz.
Prefiro rumar a uma cidade com o mínimo de balizamento, apenas com as indicações necessárias.
Rhodes não foi excepção.
As referências que levava resumiam-se ao mítico colosso e ao acordar de Corto Maltese, ao iniciar a sua aventura rumo a Samarcanda.
Nada de palpável, portanto.
E foi assim que cheguei às margens do Egeu.
Mas o que encontrei surpreendeu-me.
Rhodes revelou-se uma cidade fascinante, uma cidade única.
Única porque soube aproveitar a sua posição geográfica, o seu interesse estratégico.
Por ali passaram Gregos, Romanos, Bizantinos, Genoveses, Venezianos, Sarracenos...
Não foi por acaso que os Cavaleiros de São João a ocuparam em 1309, servindo-se dela como posto avançado no apoio às cruzadas rumo à Terra Santa.
Dessa presença chega-nos a impressionante fortificação da cidade e os notáveis Albergues dos Cavaleiros.
É única a sensação de percorrer a Rua dos Cavaleiros, descobrindo os escudos dos diversos reinos Europeus.
É emocionante depararmo-nos com as Quinas cravadas na parede do Albergue de Espanha.
E é esmagador chegar ao Palácio do Grão-Mestre no topo desta Rua.
Palácio que, apesar da reconstrução de gosto e critério duvidoso que os Italianos levaram a cabo, mantém a sua aura de imponência incontestável, de autoridade divina.
Não será difícil de imaginar a afronta e inveja que a impressionante silhueta da cidade murada, uma das maiores da Europa, despertava na Turquia, do outro lado do estreito. Durou por isso até 1522 a presença dos Cavaleiros de São João em Rhodes, tomada então pelos Turcos Otomanos, liderados por Suleiman o Magnífico.
Chegam então à cidade as inevitáveis Mesquitas com os elegantes Minaretes.
Destaco a dedicada ao conquistador Suleiman, pela sua posição de domínio sobre a cidade, desafiando a posição do Palácio do Grão-Mestre.
Mas foi com surpresa e fascínio que descobri a Mesquita, mas sobretudo o cemitério Turco de Murat Reis, já fora dos muros da cidade.
O actual estado de abandono, a que não será alheia a animosidade reinante entre Grécia e Turquia, por causa do Chipre, contribui para adensar o ar misterioso, amaldiçoado do local.
Confesso que se tornou um dos meus locais favoritos...
Foi longa de 400 anos a presença Turca, terminando em 1912, com a conquista da cidade pelos Italianos.
Começa aqui uma obcessão de 30 anos, responsável por grande parte das reconstruções que permitiram que a monumentalidade da cidade chegasse até aos dias de hoje.
Obcessão que fez do Palácio do Grão-Mestre residência de Verão para Mussolini e Victor Emanuel III.
Obcessão na reconstrução dos Albergues da Rua dos Cavaleiros.
Obcessão de quem sopunha que a presença Italiana duraria certamente mais...
Finalmente, e após a II Guerra, Rhodes é integrada na República Grega, estatuto com que chega aos dias de hoje.
E chega com características únicas, com uma hospitaleira e descontraída população.
Fruto das múltiplas influências.
Fruto da necessidade de sobrevivência às variadas mudanças na ilha.
Mas fruto, também, de uma abertura natural ao exterior.
E foi essa abertura que a tornou, mais do que uma cidade Grega, mais do que uma cidade Turca, uma cidade universal.
Uma cidade do mundo.
E é assim que gosto de pensar no Benfica.
Perto de Rhodes.
Como uma equipa universal, aberta.
Internacionalista.
Que foi capaz de albergar o marroquino Hassan e o Sueco Pringle.
Que deu tecto ao Egípcio Sabry e ao Inglês Scott Minto.
Que idolatrou Poborsky, que endeusou Preud'Homme.
Que deposita o futuro em Cardozo e Di Maria.
E que continue a servir de casa a Katsouranis.
Esse Grego que no mesmo jogo pode ser um central imperial, um seguríssimo trinco, ou um finalizador desconcertante.
Esse Grego, aclamado como herói no Estádio que o viu por fim ao sonho Europeu de Portugal.
Esse Grego que espero continue a vestir a camisola encarnada com o nº8.
Longe da sua Grécia, mas perto da universal Rhodes.
É assim que sonho o Benfica.
Uma equipa do mundo.

Pedro Rui

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Dadá Maravilha

Foi sem esperar nada mais do que um prato de feijão tropeiro que entrei no Mineirão, naquela noite de Agosto.
O Atlético atravessava, sob o comando de Leão, uma fase deprimente, daquelas que só aos clubes míticos se permitem.
O jogo era um Atlético - Corinthians, que não prometia mais do que isso: um prato do lendário tropeirão que só se encontra nessa catedral do futebol Mineiro.
A companhia, meu cunhado Marcelo, Cruzeirense, Diniz e André, Corinthianos...
Começou bem a noite, com a ansiada iguaria e dois dedos de animada prosa.
Mas, já se sabe, entrar num estádio é como embarcar na enterprise rumo ao desconhecido.
E a certeza de que o que começava ali era uma memorável noite de veneração ao futebol, surgiu, pairando no ar que nem helicóptero, levitando feito beija-flor.
Dário José dos Santos, com microfone na mão flutuava sobre a multidão, escolhendo os eleitos para uma breve conversa.
Não terá sido a cruz de malta com as quinas que ostentava ao peito que o atraíu até mim.
Não. A estatura de ídolo confere a Dadá imunidade à gravidade e a símbolos terrenos.
Já o nº 10 nas minhas costas, quando associado ao nome de Rui Costa, tem pouco de terreno.
Tenha sido essa combinação mágica ou o simples acaso, Dadá Maravilha foi trazido até mim, para uma conversa de 30 segundos.
Que apenas me deu a certeza de que os magos do futebol existem de facto.
O jogo?
5-2 para o Galo, com direito a um emocionado abraço do companheiro da fila da frente por cada golo alvinegro.
Abraço a mim, a Marcelo, Diniz e André, que, resignados o aceitaram de braços abertos.
É assim. É terrritório mágico um estádio de futebol...
Pedro Rui

terça-feira, 8 de julho de 2008

Silly Season

Findo o Euro, entrámos na Silly Season do futebol.
Não há jogos para comentar, e não tenho paciência para os reforços de verão.
Reforços reais, imaginários, cogitados ou insinuados.
Os dos clubes e os da imprensa desportiva
Alguns deles nunca o chegarão a ser.
Outros rumarão a outras paragens lá para Dezembro.
Há ainda aqueles que, declarando amor eterno a um clube, assinarão por outro, com juras de devoção inabalável.
Definitivamente não tenho paciência.
Resta-me, como se fosse coisa pouca, reflectir um pouco sobre essa paixão louca e incondicional que nutro pelo Jogo.
Sobre a paixão por jogá-lo, não ouso acrescentar uma palavra sequer ao escrito pelo Joel Neto nesse essencial "Todos nascemos Benfiquistas (mas depois alguns crescem)".
Não ouso fazê-lo, porque nada mais há a dizer.
Já sobre o mágico prazer, que por vezes temos a sorte de sentir nas bancadas de um qualquer estádio, vou arriscar uma reflexão.
O que será que transforma um vulgar jogo numa inesquecível experiência que nos acompanhará até ao final dos nossos dias?.
Será o conforto no estádio?
É uma tendência inevitável, a preocupação de proporcionar conforto individual aos espectadores.
É importante, sem dúvida. mas não determinante. Nunca conseguirá superar o sofá lá de casa, com direito a cerveja com álcool, excomungada agora das arenas.
Já saí mais satisfeito do antiquado Independência do que do Cidade de Coimbra, sofisticado e elegante.
Já me diverti mais no antigo Estádio das Antas, do que no novíssimo Bessa.
Talvez a qualidade do jogo?
Claro que é um deleite para os olhos assistir a um grande jogo de futebol.
Mas confesso que já me diverti mais num deprimente Porto - Naval 1º de Maio do que num emotivo Académica - Benfica.
Não é este o caminho, portanto.
O resultado?
Definitivamente não. Já me senti mais realizado ao assistir um Beira-Mar - Benfica que terminou empatado, e em que o Glorioso hipotecou a hipótese de lutar pelo título, do que de ao presenciar um justo 1-3 com que venceu a Académica.
Tem que haver algo mais. Algo de transcendente.
Um conjunto de circustâncias que transformam um conjunto de desconhecidos, anónimos, numa entidade única que grita em uníssono, pensa em conjunto, observa em comunhão.
Porque o futebol é isso mesmo: um exercício colectivo. E é-o não só dentro do campo.
Por vezes também o é na bancada.
Quando aquele desconhecido da fila da frente se transforma por escassos 90 minutos no nosso melhor amigo.
Com quem se desabafa, com quem se tenta entender porque é que o Camacho continua a apostar no Fernando Aguiar.
Quando toda aquela fila onde estamos sentados entra em transe com esse passe de magia negra que é a entrada do Mantorras em campo.
Quando um estádio inteiro admira embasbacado a perfeição que Simão coloca no mais pequeno toque e na mais brilhante jogada.
E acho que no fundo é a paixão comum pelo jogo, a vontade de a partilhar que explica essa magia com que por vezes somos abençoados.
Quando entramos num estádio entramos em território mágico. Entramos na twilight zone.
E podemos, por isso, esperar tudo. Sobretudo o inesperado.

Pedro Rui

domingo, 6 de julho de 2008

Paulo Ferreira

É triste, a confusão que impera hoje no futebol Português.
E é triste porque pouco tem a ver com futebol.
O que se discute hoje é a validade de decisões conturbadas, a aplicabilidade de normas, de prazos, trânsito em julgado.
Matéria de direito, em suma.
E o direito pouco importa para quem gosta de futebol.
Um jogo tem que ter regras. Um mínimo de regras.
Mas toda a montanha burocrática que se constrói em cima dele atrapalha.
Todos os magistrados e juízes que aparecem transvestidos de dirigentes desportivos, federativos e o que mais lembre, não auguram nada de bom para os que se deleitam no rectângulo mágico.
Revelam que nem só de bola vive o futebol. Eles não vivem.
O resultado está à vista.
Factos de que poucos duvidam e que apenas alguns contestam, que deveriam ter tido castigo, vagueiam num limbo de indecisões que mais não fazem do que perpetuar a lama e beneficiar os prevaricadores.
E, arrisco dizer, a impunidade vai prevalecer.
Não, futebol não é isto.
Paulo Ferreira deu uma cabal prova disso.
Tivesse ele usado as artes da dissimulação, e talvez a Alemanha não tivesse marcado o fatal terceiro golo contra Portugal.
Bastava rentabilizar o pequeno empurrão de Ballack, bastava ter-se projectado teatralmente para o chão e talvez o árbitro tivesse apitado.
Foi criticado por não o ter feito. Não por mim. Gostei da sua atitude.
Honestamente o pequeno empurrão, que existiu, foi apenas isso. Um pequeno empurrão que faria cair qualquer criança de 6 anos.
Paulo Ferreira aguentou-o e tentou disputar a bola.
Não conseguiu evitar o golo mas fez o que se pede a um jogador: que não desista.
Mas tal só foi possível porque Paulo Ferreira joga no Chelsea. E em Inglaterra o jogo é mais importante do que as regras.
As regras estão lá para balizar, para não permitir excessos. Mas devem ser vistas somente como isso.
Caso contrário tornarão o jogo algo de assético, esterilizado, sem emoção.
Não é concebível futebol sem contacto físico. É parte do jogo e quem joga sabe-o.
E quem gosta de jogar admitirá que alguns exageros são o preço a pagar pelo prazer do jogo.
Por mim falo.
Prefiro ser atirado ao chão pelos 100Kg do Mário, mas poder socar uma bola sem receio de lhe acertar na cabeça.
Prefiro poder sair de forma temerária aos pés do Filipe, ainda que isso me custe algumas nódoas negras.
Admito de bom grado as repreensões que ouço do Henrique, se em troca me puder divertir com os seus dribles.
Não me importo de ir ao chão.
Porque sei que, para me levantar terei sempre a mão do adversário.

Pedro Rui


terça-feira, 1 de julho de 2008

Campeones

Afinal não é inteiramente injusto, o futebol.
Ao contrário de 2004, ganhou a melhor selecção.
A que mais fez pelo jogo.
A cigarra não se viu ontem. As formigas tiveram o justo prémio.
A Mannschaft foi igual a si mesma. Fraca e cínica.
Mas Ricardo não estava lá. Rustu havia rumado a casa.
E Schweisteiger falhou na jogada que por três vezes levou a bola à baliza adversária.
Espanha, honra lhe seja feita, foi inteligente e soube aproveitar as debilidades alemãs.
Torres fez a cabeça em água aos centrais.
E soube, no lance do golo, aproveitar a interpretação lata das leis do jogo, que os árbitros usaram neste campeonato.
Nunca desistiu da bola e, temerário, soube impor-se a Lahm.
Sérgio Ramos e Puyol, seguiram a mesma bitola, mostrando a Ballack e companhia, que os "baixinhos" do sul também sabem meter o pé.
Também sabem jogar duro.
Souberam acalmar o jogo quando se impunha, souberam inflamar os ânimos, quando tinha de ser...
Impressionou a forma como aguentaram a investida inicial dos Alemães.
E chegou a ser genial a reacção com que puseram fim a nova investida alemã, na segunda parte. Depois disso, restou o desnorte bávaro.
Lamento, no entanto, a displicência de Iniesta, que, depois de chegar com brilhantismo à área de Lehman, desbaratou a oportunidade de matar o jogo. E embalar, quem sabe, para um resultado histórico.
E lamento a falta de instinto goleador de Senna quando resolveu tentar a sua sorte na área, tendo falhado por pouco.
Depois de um jogo de sacrifício, de sombra, merecia o golo, o Brasileiro.
Para bem do futebol saiu gorada esta nova invasão bárbara.
A península mostrou a sua fibra.
Gracias España!

Pedro Rui


domingo, 29 de junho de 2008

Europa

Afinal vamos ter uma final Europeia.
Já rumaram a casa os outsiders.
Rustu imitou Ricardo. Hiddink fez lembrar Scolari.
Restaram os vizinhos espanhóis e os frios alemães. Polacos e brasileiros incluídos.
Imperou a lógica geográfica, mas confesso que torcia por outra final.
Preferia que houvesse Euro para lá dos Urais.
Que houvesse festa para além do Mar Negro.
Imperou a velha Europa.
A Turquia deve chorar ainda a injustiça que o futebol pode ser.
A crueldade que pode conter, ao coroar uma equipa cinicamente eficaz, crucificando quem mais contribuíu para o espectáculo...
Porque o futebol teria sido melhor servido se a Mannschaft tivesse sucumbido aos pés da paixão turca.
Essa paixão que quase fez história. Essa Turquia que quase foi Europa.
A Mannschaft, essa é a mais fraca de que me lembro.
Já na outra meia-final, a justiça prevaleceu.
A Rússia, que surpreendeu ao eliminar a espectacular Holanda, voltou à apatia e passividade que lhe reconhecemos.
Hiddink incluído. Chegou a lembrar o Scolari dos últimos jogos.
O Scolari
pós-Chelsea...
Chocou com uma forte selecção Espanhola. A mais forte de que me lembro.
Mas essa selecção, que, apesar de poder ser um justo campeão Europeu, não me convence inteiramente.
Contém em si uma característica tipicamente Espanhola: a vaidade.
Parte da equipa pavoneia-se no campo como se fossem os melhores do mundo. Como se essa fosse uma verdade absoluta, para além de qualquer dúvida razoável.
Falo de Torres, que falha golos com a displicência dos eleitos. Mas isso perdoa-se apenas aos eleitos...
Falo de Marchena, e da sua sobranceria, como se do melhor central do mundo se tratasse. Mas está longe, muito longe disso.
Falo de Villa, David Villa, a vaidade em pessoa... Mais Espanhol impossível.
Felizmente há uma outra Espanha.
A de Senna, esse
unsung hero, humilde mas genial. E nascido em São Paulo.
A de Casillas, o Real Casillas, imperial e seguro. Sempre.
A de David Silva, cuja inteligência merece por si só a final.
A de Fábregas e Guiza, que cumprem com garbo e simplicidade a sua missão.
Resta saber quem dominará a final.
A Alemanha não será concerteza.
Se for a cigarra teremos a Mannschaft coroada.
Se for a formiga teremos um campeão Ibérico.
Por mim que vença a formiga.
E que a cigarra faça a festa.
Y que viva la España.

Pedro Rui