quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rhodes, cidade universal

Confesso que não sou daqueles viajantes que investiga exaustivamente os locais que visita, que prepara ao pormenor as viajens que faz.
Prefiro rumar a uma cidade com o mínimo de balizamento, apenas com as indicações necessárias.
Rhodes não foi excepção.
As referências que levava resumiam-se ao mítico colosso e ao acordar de Corto Maltese, ao iniciar a sua aventura rumo a Samarcanda.
Nada de palpável, portanto.
E foi assim que cheguei às margens do Egeu.
Mas o que encontrei surpreendeu-me.
Rhodes revelou-se uma cidade fascinante, uma cidade única.
Única porque soube aproveitar a sua posição geográfica, o seu interesse estratégico.
Por ali passaram Gregos, Romanos, Bizantinos, Genoveses, Venezianos, Sarracenos...
Não foi por acaso que os Cavaleiros de São João a ocuparam em 1309, servindo-se dela como posto avançado no apoio às cruzadas rumo à Terra Santa.
Dessa presença chega-nos a impressionante fortificação da cidade e os notáveis Albergues dos Cavaleiros.
É única a sensação de percorrer a Rua dos Cavaleiros, descobrindo os escudos dos diversos reinos Europeus.
É emocionante depararmo-nos com as Quinas cravadas na parede do Albergue de Espanha.
E é esmagador chegar ao Palácio do Grão-Mestre no topo desta Rua.
Palácio que, apesar da reconstrução de gosto e critério duvidoso que os Italianos levaram a cabo, mantém a sua aura de imponência incontestável, de autoridade divina.
Não será difícil de imaginar a afronta e inveja que a impressionante silhueta da cidade murada, uma das maiores da Europa, despertava na Turquia, do outro lado do estreito. Durou por isso até 1522 a presença dos Cavaleiros de São João em Rhodes, tomada então pelos Turcos Otomanos, liderados por Suleiman o Magnífico.
Chegam então à cidade as inevitáveis Mesquitas com os elegantes Minaretes.
Destaco a dedicada ao conquistador Suleiman, pela sua posição de domínio sobre a cidade, desafiando a posição do Palácio do Grão-Mestre.
Mas foi com surpresa e fascínio que descobri a Mesquita, mas sobretudo o cemitério Turco de Murat Reis, já fora dos muros da cidade.
O actual estado de abandono, a que não será alheia a animosidade reinante entre Grécia e Turquia, por causa do Chipre, contribui para adensar o ar misterioso, amaldiçoado do local.
Confesso que se tornou um dos meus locais favoritos...
Foi longa de 400 anos a presença Turca, terminando em 1912, com a conquista da cidade pelos Italianos.
Começa aqui uma obcessão de 30 anos, responsável por grande parte das reconstruções que permitiram que a monumentalidade da cidade chegasse até aos dias de hoje.
Obcessão que fez do Palácio do Grão-Mestre residência de Verão para Mussolini e Victor Emanuel III.
Obcessão na reconstrução dos Albergues da Rua dos Cavaleiros.
Obcessão de quem sopunha que a presença Italiana duraria certamente mais...
Finalmente, e após a II Guerra, Rhodes é integrada na República Grega, estatuto com que chega aos dias de hoje.
E chega com características únicas, com uma hospitaleira e descontraída população.
Fruto das múltiplas influências.
Fruto da necessidade de sobrevivência às variadas mudanças na ilha.
Mas fruto, também, de uma abertura natural ao exterior.
E foi essa abertura que a tornou, mais do que uma cidade Grega, mais do que uma cidade Turca, uma cidade universal.
Uma cidade do mundo.
E é assim que gosto de pensar no Benfica.
Perto de Rhodes.
Como uma equipa universal, aberta.
Internacionalista.
Que foi capaz de albergar o marroquino Hassan e o Sueco Pringle.
Que deu tecto ao Egípcio Sabry e ao Inglês Scott Minto.
Que idolatrou Poborsky, que endeusou Preud'Homme.
Que deposita o futuro em Cardozo e Di Maria.
E que continue a servir de casa a Katsouranis.
Esse Grego que no mesmo jogo pode ser um central imperial, um seguríssimo trinco, ou um finalizador desconcertante.
Esse Grego, aclamado como herói no Estádio que o viu por fim ao sonho Europeu de Portugal.
Esse Grego que espero continue a vestir a camisola encarnada com o nº8.
Longe da sua Grécia, mas perto da universal Rhodes.
É assim que sonho o Benfica.
Uma equipa do mundo.

Pedro Rui

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