segunda-feira, 18 de agosto de 2008

JVP

É o ciclo da vida.
Todos os futebolistas, mesmo os eternos, decidem um dia pôr fim à carreira.
Também para João Vieira Pinto chegou a hora de anunciar a retirada.
João Vieira Pinto, um dos mais brilhantes futebolistas de sempre.
Um dos mais controversos.
Um dos mais injustiçados, também.
Dono de uma técnica invejável, imparável com a bola nos pés, desconcertante sem ela, nunca deixou ninguém indiferente.
Se no campo é quase consensual o seu talento, fora dele suscita reacções opostas.
Contribuiram para isso algumas atitudes e situações em que caiu ou se deixou cair.
Cito apenas o caricato episódio do "rapto" por Sousa Cintra e o resgate encarnado, nesse verão de desertores da Luz. Não lhe ficou bem.
Mas fico-me por aqui, porque considero que é o que fez dentro de campo que deve marcar a apreciação da sua carreira.
E aí foi um jogador incontornável em qualquer análise séria que se faça dos últimos 20 anos do futebol Português.
Foi a ele que coube a hercúlea tarefa de carregar o Benfica às costas, durante o deprimente período que se seguiu à purga de Artur Jorge.
Assumiu as despesas e fê-lo como ninguém.
E foi absolutamente decisivo nessa fase.
E como todos os jogadores decisivos foi sistematicamente castigado, impiedosamente marcado.
Era o alvo a abater, o homem a anular.
Porque assim se anulava o Benfica.
Mas não era fácil, que o diga Paulinho Santos.
Tornou-se então alvo da maldicência dos adversários. Da inveja.
Repetidamente foi rotulado de "fiteiro", acusado de simular faltas, de cavar penalties.
Aguentou-se, apesar disso.
Porque esse é o reverso da medalha da fama, da notoriedade.
E aguentou também a incompreensível e sumária dispensa do plantel encarnado, às portas do Euro 2000.
Vítima da deriva autoritária, populista e cega de Vale e Azevedo.
Mas a esta humilhação pública, respondeu com um Europeu fantástico, e com um golo, o 2-2 à Inglaterra, que permanecerá para sempre como um dos mais belos golos marcado na história do campeonato.
E respondeu com um contrato com o Sporting.
Respondeu com dois campeonatos nacionais ganhos de leão ao peito, que terminou com os 18 anos de jejum, que já alimentava o anedotário popular.
Não resistiu tão bem ao linchamento público de que foi alvo após a inacreditável tesoura com que presenteou um adversário Coreano nesse deprimente Mundial de 2002, nesse Mundial de António Oliveira.
E se essa falta despropositada e dura foi incompreesível, que dizer da reacção intempestiva que culminou com a agressão ao árbitro? Sem perdão, foi a frase que então me ocorreu.
E terá ocorrido também a Scolari, que o riscou sumariamente da Selecção.
Pareceu-me lógico na altura.
Olhando para trás, revendo a sua carreira, não estou tão certo disso hoje. Penso que teria merecido um castigo exemplar, é certo, mas também uma nova oportunidade.
Porque prefiro lembrar o João Vieira Pinto dos célebre 6-3 ao Sporting de Queirós.
Ou da genial jogada com que desbaratou a defesa alemã, em pleno Estádio da Luz, culminando com um remate sobre a direita, defendido pelo grande Andreas Kopke.
Merecia golo, essa jogada.
Como merecia outro final a sua carreira.
Quem gosta realmente de futebol não vai esquecer João Vieira Pinto.
Eu não esquecerei.

Pedro Rui




1 comentário:

Adm. disse...

Olá!

Passei por aqui...
Obrigada pelo convite.
Voltarei.

Beijinhos da Berinha e abração do Hugo.