sábado, 27 de março de 2010

mudança

Depois de quase 2 anos a usar a plataforma blogger, decidi tentar a mudança de ares.
Assim, criei o "novo" lanchonete em:
lanchonete.wordpress.com
Espero que gostem, espero que comentem.

Pedro Rui
Senhora da Hora, 27 de Março de 2010

quinta-feira, 18 de março de 2010

le jour de gloire est arrivé

É isto, o futebol.
Depois de uma semana maldita só o melhor Benfica poderia devolver-me o ânimo.
Depois do choque, só um café feito Estádio para limpar a alma.
Depois das lágrimas só um grande jogo para soltar a euforia.
E foi tudo isso que se passou no Vélodrome.
Injustiça, revolta, mas futebol, no fim.
Porque é futebol ver David Luis e Di Maria alternando pecado e redenção.
É futebol, o reencontro de Carlos Martins depois de anos de perdição.
Como é futebol, o esplendor que Aimar espalha na relva nos poucos minutos que joga.
E é essencialmente com futebol, que Javi faz esquecer o Grego.
Ou o remate beirando a perfeição, com que Cardozo apaga 90 minutos de ausência.
Houve futebol em Marselha.
Teria gostado, o Nuno...

(...)
Sous nos drapeaux, que la victoire
Accoure à tes mâles accents,
Que tes ennemis expirant
Voient ton triomphe et notre gloire!
(...)

Pedro Rui
Senhora da Hora, 18 de Março de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

sinais de fogo

Sábado.
Atravessei a rua em direcção ao café, peguei na NS, procurei a costumeira crónica do Joel Neto e nada. Férias.
Resignado desfolhei a bola e detive-me na crónica de Ricardo Araújo Pereira.
Bem escrita, como sempre, mas desta vez com um toque sério. Não era para menos.
O chorrilho de mentiras com que MST nos presenteou na última "Nortada" não dá vontade de rir.
A desonestidade intelectual com que nos vai presenteando sempre que fala de futebol não tem piada.
Dá pena. E revela um complexo de inferioridade deprimente.
Que o Porto não merece.
O Porto tem méritos mais do que suficientes para se afirmar como um grande clube.
Sem precisar de teorias da conspiração, manias da perseguição e de grandes planos maquiavélicos para explicar os seus insucessos.
Que nem insucessos são, pois como MST diz numa das poucas coisas correctas que encontro na sua crónica, o Porto áinda não perdeu nenhuma das competições em que está envolvido.
Por isso me espanta tanto histerismo só porque o Benfica joga futebol como há muito não se via.
Tanto pânico só porque o Benfica está confortavelmente à frente do Porto, como há muito não me lembro.
E tanto desnorte só porque há uma forte possibilidade de o Porto terminar a Liga em 3º lugar.
Fora da Champiuons League.
Acontece, meus amigos.
O futebol é assim.
E só quem o sabe aceitar com lisura pode ser verdadeiramente grande 
O Porto será grande quando olhar mais para si e menos para o Sul.
Será grande quando perceber que ultrapassou os limites da circunvalação.
Quando se deixar de bairrismos bacocos, de regionalismos tontos.
Quando souber perder da mesma forma que sabe ganhar.
Quando no Dragão os cânticos de insultos ao SLB derem lugar a louvores aos azuis-e-brancos.
Quando não precisar de opinion-makers raivosos e dirigentes boçais.
Até lá será apenas um clube regional com grandes resultados.
É pouco.
E é pena.

Pedro Rui
Senhora da Hora, 20 de Fevereiro de 2010

  

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Valência

Cidade que não acarinhou Aimar, não é para mim merecedora de particular respeito.
Rumei, por isso, a Valência sem grandes expectativas.
Entretanto demorei-me na majestosa Ávila.
Passeei-me sem pressa pela magnífica Toledo.
Tudo para retardar a chegada a terras de Joan de Joanes.
Mas, ao contrário da gélida e cinzenta viagem, o dia amanheceu solarengo em Valência.
E o mediterrâneo surgiu-me encantador no Passeig Neptú. Onde, apesar dos 5ºC, espanhóis de provecta idade se protegiam com bronzeador do insano Sol de inverno.
Como encantador me surgiu o centro histórico. Onde se chega adentrando as Torres dels Serrans, vindo da ponte com o mesmo nomeDepois de percorrer os  elegantes Boulevards da margem esquerda do que outrora foi o Túria.
Depois de me demorar, extasiado, com o impressionante Museo de las Bellas Artes.
E antes de me encantar com a megalomania deliciosa da Ciutat de les Arts i les Ciències, projectada pelo Valenciano Calatrava.
Localizada no surreal leito seco do Túria, desviado há décadas, onde coexistem parques, percursos, lagos e campos de futebol. Muitos campos de futebol.
E cidade com futebol nas veias é certamente merecedora de respeito.
Olhei então com outros olhos para o Mestalla, construído sobre um canal de rega de quem herdou o nome.
Lembrei-me então de Kempes, Mendieta, mas sobretudo de Cañizares. De morcego ao peito.
E finalmente bendisse a opção por Valência, neste carnaval.
E anseio um regresso breve.
"...
Valencia, al sentir como perfuma de tus huertas el azahar,
quisiera, en la tierra valenciana, mis amores encontrar.
..."

Pedro Rui
Valencia, 16 de Fevereiro de 2010





domingo, 3 de janeiro de 2010

it ends tonight

Chega hoje ao fim um período de ausência.
De futebol.
Mas, se "a ausência é um estar em mim", citando Drummond, é a falta que me atormenta.
E como senti falta do Benfica, nestas festas...
De qualquer Benfica.
Do diplomaticamente ineficaz de Quique.
Do brutalmente dominador de Jesus.
Ou do Benfica assim-assim, que por vezes nos sai em rifa.
Porque foi uma ano completo, este.
Em que vivemos a decepção que julgávamos crónica.
Em que nos entusiasmámos com um Benfica que já não julgávamos possível.
E que entre esses dois estados permitiu o equilíbrio.
Equilíbrio que sobreviveu a Olhão e ao Porto, na Luz.
Mas que não resistiu à primeira rabanada.
Tentei de tudo. Ver jogos repetidos na BenficaTV.
Procurei desesperadamente no cabo qualquer coisa que envolvesse 22 homens e uma bola.
Sem sucesso.
Cada tentativa só serviu para aumentar a saudade de ver o Benfica jogar.
Acaba hoje, a saudade.
Corra como correr o jogo na Luz.


Senhora da Hora, 3 de Janeiro de 2010

(para a Sofia)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Cabidela

Começou como começam as grandes histórias, por acaso.
Começou com uma qualquer conversa, no intervalo de um curso em horário pós-laboral.
Precisavam de um keeper, comentou um colega.
Na Maia, aos Sábados à tarde.
O campo, um verdadeiro 20x40, com relvado sintético de última geração.
Irrecusável convite para uma hora de prazer.
Assim foi. Um punhado de jogos interessantes e umas tardes de Sábado bem passadas.
E um encontro feliz com um jogador de futebol. Quem joga sabe que se criam empatias inexplicáveis dentro de campo. Que se estabelecem ligações privilegiadas. Que há jogadores com quem jogamos até de olhos fechados.
Por isso, quando me disse que jogava também às segundas-feiras à noite, no mesmo campo, e que precisavam de um keeper, a minha resposta foi óbvia.
Nunca recuso um convite para uma hora de prazer intenso...
E era realmente disso que se tratava. Uma hora de jogo com um ritmo insano.
Com um espírito competitivo exacerbado.
Como da final da Champions se tratasse.
Loucos gloriosos, a jogar futebol do melhor.
Que com frequência se tornavam o centro das atenções.
Nos períodos de ouro, até os jogadores do campo ao lado paravam para observar.
Era Champions League, com toda a propriedade.
Encontrei ali o jogador mais criativo e divertido que vi jogar.
Surpreendi-me com o empenho e fôlego infindáveis.
Sofri com o mais venenoso pé esquerdo de que me lembro.
Ri-me com os mais desconcertantes golos.
Deleitei-me com o jogo de equipa.
Foram tempos áureos, esses.
Jogos míticos, que recordamos até hoje.
Mas tudo na vida tem um fim.
E as lesões precipitaram esse fim.
Se à primeira lesão grave as segundas-feiras ficaram mais tristes, à segunda terminaram.
Essa segunda lesão que materializou o maior receio de todos.
A mesa de operações e o fim definitivo do futebol.
Os jogos continuaram por mais alguns meses.
Mas foi apenas o prolongar a agonia.
Hoje resta apenas a saudade.
E um jantar anual, em volta de um arroz de cabidela, de 6 ou 7 jogadores que se encontravam para jogar futebol, às segundas-feiras.
Os melhores que conheci.

Senhora da Hora, 6 de Dezembro de 2009

sábado, 5 de dezembro de 2009

de pantufas

Fui traído pelas minhas palavras de cronista de trazer por casa.
Não pretendia em caso algum denotar resignação, com a crónica do Larouco.
E muito menos baixar os braços.
Não os baixei nas longas travessias do deserto com que o Glorioso me presenteia frequentemente.
Não desisiti do Atlético quando uma impensável descida à Série B se abateu sobre BH.
Não deixei de acreditar no América, mesmo vegetando na ridícula Série C do Brasileirão.
Não deixei de confiar no Benfica, por causa de dois resultados pontuais.
Reafirmo: O Benfica vai ser campeão.
Confio cegamente nisso.
Mas sou realista.
Tudo na vida tem seu ciclo. O Benfica de Jesus não é excepção.
Depois de um exuberante Outono, é normal que venha a míngua do Inverno.
Que o frio entorpeça as ideias da equipa.
Que a geada congele a imaginação dos criativos.
Que o vento fustigue o entusiasmo dos jogadores.
Espero que Jesus saiba disso.
E espero que saiba, sobretudo, usar a reserva de motivação amealhada nas goleadas passadas.
Para que se possa passar incólume pelo Inverno.
Porque voltará o entusiasmo da Primavera.
As goleadas voltarão lá para Março.
Encaremos pois a estação que se avizinha.
Mas, antes das rabanadas, é importante um último esforço.
Uma última folha de Outono
Que se vença o Porto.
Sem dúvidas e com categoria.
Depois, que venham as pantufas e a lareira.

Senhora da Hora, 5 de Dezembro de 2009