quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Derby

Os derbies são frequentemente jogos enganadores.
Não raras vezes vimos o Benfica subir ao relvado autoritário e decidido, em plena depressão de resultados, em períodos de abstinência futebolística, e derrotar sem apelo nem agravo, o arqui-rival de Alvalade.
Os clássicos contra os Azuis da Invicta, também o são, enganadores. Mas há nestes uma nuance diferente.
Mas falemos hoje de um derby, do último Benfica-Sporting.
Esse que foi um derby atípico. Porque espelhou a real condição de ambas as equipas.
O Sporting entrou decidido e com a lição estudada, tentando tirar partido da juventude dos centrais, Sidnei e Miguel Vitor, cujos 19 anos de vida, deixariam adivinhar alguma inexperiência.
Entrou decidido mas falhou a oportunidade de marcar e transformar o jogo. Mais Sporting. era impossível.
O Benfica reagiu, com garra e com preocupações construtivas, marca de Quique.
Se há, aliás, característica que me entusiasma neste Benfica, é a preocupação de construir.
De destruir somente quando outra alternativa não resta.
De encarar qualquer recuperação como início de uma jogada, seja em que posição for.
De passar, em vez de aliviar. De entregar em vez de despachar.
É uma estratégia arriscada, que trará certamente alguns dissabores.
Mas compensa. Decididamente compensa.
Os jovens centrais, ainda sem vícios, fazem-no com desenvoltura.
Léo como grande lateral que é, sempre o fez. Maxi, estou certo, fa-lo-à, com o tempo.
Yebda, que ao contrário do que destila Miguel Sousa Tavares, não é nem remotamente parecido com Fernando Aguiar, pode desempenhar também um importante papel nessa estratégia de construção.
Ao contrário de Fernando Aguiar, jogador que cumpriu honestamente o que lhe foi pedido pela sua passagem pela luz, onde foi, aliás campeão, mas que nunca foi acarinhado no terceiro anel.
Só um portista, atormentado pelo complexo nortenho o pode pensar.
Yebda foi importante na primeira parte, mas surpreendeu na segunda, quando subiu ao corredor direito, deixando a protecção dos centrais a Katsouranis, esse grego que felizmente ainda veste de Vermelho.
Foi aliás esta estranha movimentação que tornou inofensiva a estratégia do Sporting.
Assegurada então uma solidez defensiva mínima, foi apenas necessário deixar fluir a capacidade técnica de Aimar, a vontade de Carlos Martins e a classe de Reyes.
O Benfica ganhou um jogo que podia muito bem ter perdido, tivesse Djaló marcado nos primeiros minutos.
Um jogo que espelhou uma equipa em construção, mas que demonstra um interessante potencial.
É instável, mas joga o melhor futebol que vi na Luz nos últimos anos.
Pode falhar, já amanhã contra o Nápoles, mas continuará a crescer.
Haja paciência e trabalho.

Pedro Rui



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