domingo, 6 de julho de 2008

Paulo Ferreira

É triste, a confusão que impera hoje no futebol Português.
E é triste porque pouco tem a ver com futebol.
O que se discute hoje é a validade de decisões conturbadas, a aplicabilidade de normas, de prazos, trânsito em julgado.
Matéria de direito, em suma.
E o direito pouco importa para quem gosta de futebol.
Um jogo tem que ter regras. Um mínimo de regras.
Mas toda a montanha burocrática que se constrói em cima dele atrapalha.
Todos os magistrados e juízes que aparecem transvestidos de dirigentes desportivos, federativos e o que mais lembre, não auguram nada de bom para os que se deleitam no rectângulo mágico.
Revelam que nem só de bola vive o futebol. Eles não vivem.
O resultado está à vista.
Factos de que poucos duvidam e que apenas alguns contestam, que deveriam ter tido castigo, vagueiam num limbo de indecisões que mais não fazem do que perpetuar a lama e beneficiar os prevaricadores.
E, arrisco dizer, a impunidade vai prevalecer.
Não, futebol não é isto.
Paulo Ferreira deu uma cabal prova disso.
Tivesse ele usado as artes da dissimulação, e talvez a Alemanha não tivesse marcado o fatal terceiro golo contra Portugal.
Bastava rentabilizar o pequeno empurrão de Ballack, bastava ter-se projectado teatralmente para o chão e talvez o árbitro tivesse apitado.
Foi criticado por não o ter feito. Não por mim. Gostei da sua atitude.
Honestamente o pequeno empurrão, que existiu, foi apenas isso. Um pequeno empurrão que faria cair qualquer criança de 6 anos.
Paulo Ferreira aguentou-o e tentou disputar a bola.
Não conseguiu evitar o golo mas fez o que se pede a um jogador: que não desista.
Mas tal só foi possível porque Paulo Ferreira joga no Chelsea. E em Inglaterra o jogo é mais importante do que as regras.
As regras estão lá para balizar, para não permitir excessos. Mas devem ser vistas somente como isso.
Caso contrário tornarão o jogo algo de assético, esterilizado, sem emoção.
Não é concebível futebol sem contacto físico. É parte do jogo e quem joga sabe-o.
E quem gosta de jogar admitirá que alguns exageros são o preço a pagar pelo prazer do jogo.
Por mim falo.
Prefiro ser atirado ao chão pelos 100Kg do Mário, mas poder socar uma bola sem receio de lhe acertar na cabeça.
Prefiro poder sair de forma temerária aos pés do Filipe, ainda que isso me custe algumas nódoas negras.
Admito de bom grado as repreensões que ouço do Henrique, se em troca me puder divertir com os seus dribles.
Não me importo de ir ao chão.
Porque sei que, para me levantar terei sempre a mão do adversário.

Pedro Rui


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