terça-feira, 8 de julho de 2008

Silly Season

Findo o Euro, entrámos na Silly Season do futebol.
Não há jogos para comentar, e não tenho paciência para os reforços de verão.
Reforços reais, imaginários, cogitados ou insinuados.
Os dos clubes e os da imprensa desportiva
Alguns deles nunca o chegarão a ser.
Outros rumarão a outras paragens lá para Dezembro.
Há ainda aqueles que, declarando amor eterno a um clube, assinarão por outro, com juras de devoção inabalável.
Definitivamente não tenho paciência.
Resta-me, como se fosse coisa pouca, reflectir um pouco sobre essa paixão louca e incondicional que nutro pelo Jogo.
Sobre a paixão por jogá-lo, não ouso acrescentar uma palavra sequer ao escrito pelo Joel Neto nesse essencial "Todos nascemos Benfiquistas (mas depois alguns crescem)".
Não ouso fazê-lo, porque nada mais há a dizer.
Já sobre o mágico prazer, que por vezes temos a sorte de sentir nas bancadas de um qualquer estádio, vou arriscar uma reflexão.
O que será que transforma um vulgar jogo numa inesquecível experiência que nos acompanhará até ao final dos nossos dias?.
Será o conforto no estádio?
É uma tendência inevitável, a preocupação de proporcionar conforto individual aos espectadores.
É importante, sem dúvida. mas não determinante. Nunca conseguirá superar o sofá lá de casa, com direito a cerveja com álcool, excomungada agora das arenas.
Já saí mais satisfeito do antiquado Independência do que do Cidade de Coimbra, sofisticado e elegante.
Já me diverti mais no antigo Estádio das Antas, do que no novíssimo Bessa.
Talvez a qualidade do jogo?
Claro que é um deleite para os olhos assistir a um grande jogo de futebol.
Mas confesso que já me diverti mais num deprimente Porto - Naval 1º de Maio do que num emotivo Académica - Benfica.
Não é este o caminho, portanto.
O resultado?
Definitivamente não. Já me senti mais realizado ao assistir um Beira-Mar - Benfica que terminou empatado, e em que o Glorioso hipotecou a hipótese de lutar pelo título, do que de ao presenciar um justo 1-3 com que venceu a Académica.
Tem que haver algo mais. Algo de transcendente.
Um conjunto de circustâncias que transformam um conjunto de desconhecidos, anónimos, numa entidade única que grita em uníssono, pensa em conjunto, observa em comunhão.
Porque o futebol é isso mesmo: um exercício colectivo. E é-o não só dentro do campo.
Por vezes também o é na bancada.
Quando aquele desconhecido da fila da frente se transforma por escassos 90 minutos no nosso melhor amigo.
Com quem se desabafa, com quem se tenta entender porque é que o Camacho continua a apostar no Fernando Aguiar.
Quando toda aquela fila onde estamos sentados entra em transe com esse passe de magia negra que é a entrada do Mantorras em campo.
Quando um estádio inteiro admira embasbacado a perfeição que Simão coloca no mais pequeno toque e na mais brilhante jogada.
E acho que no fundo é a paixão comum pelo jogo, a vontade de a partilhar que explica essa magia com que por vezes somos abençoados.
Quando entramos num estádio entramos em território mágico. Entramos na twilight zone.
E podemos, por isso, esperar tudo. Sobretudo o inesperado.

Pedro Rui

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