sexta-feira, 7 de novembro de 2008

noite de ilusões

Esperava uma noite Europeia, ontem
17 exactos anos após esse histórico 6 de Novembro de 1991, em que o Benfica derrotou, em Londres o Arsenal por 3-1.
Esperei em vão.
O pragmatismo do Galatasaray, mas sobretudo a noite apagada dos jogadores encarnados, não fez juz à história.
Noite apagada de todos, sem excepção relevante.
Cito apenas dois, que se contam entre os meus favoritos: Yebda e Katsouranis.
Porque qualquer equipa depende hoje do acerto e do trabalho do meio-campo.
E depende sobretudo, e esta é uma opinião pessoal, da sua componente mais defensiva.
Na Luz, quando Yebda ou Katsouranis, quando pelo menos um deles, faz um bom jogo, o Benfica faz um bom jogo.
Quando ambos se apresentam inspirados, é provavel que o futebol mereça veneração.
As bolas recuperadas chegam rapidamente aos criativos ou aos extremos, e a baliza aversária transforma-se em alvo.
Mas quando ambos falham, o que, felizmente ocorre poucas vezes, o jogo torna-se desconexo e lento.
Pesado e chato.
Foi assim ontem, sobretudo na segunda parte.
O que vi na Luz foi um Yebda desatento, demorando demasiado a pressionar, a falhar sistematicamente cortes.
A gastar toda uma eternidade a pensar o passe seguinte.
E, em futebol, um passe demorado é normalmente um passe falhado.
Vi também o jogo desconcentrado de Katsouranis, que ainda não recuperou o brilho da primeira época de águia ao peito.
Desconcentrado e trapalhão.
E a equipa ressentiu-se.
Com os jogadores mais avançados a recuar para entrar no jogo.
Mas, ao fazê-lo, nunca estavam onde deviam: na frente de ataque.
O dom da obiquidade, ainda não mora na Luz...
E o desacerto permitiu aos Turcos o jogo que lhes interessava.
Cínico e eficaz. Seguro e bem pensado.
Europeu, diria.
Como Europeu foi o ambiente vivido nas bancadas.
E só por isso valeu a pena a ida a esse magnífico Estádio.
Digo-o eu e dirão os mais de 46.000 presentes.
Que criticaram os jogadores quando se impunha, mas que não vaiaram nenhum dos seus.
Uma multidão que caiu desolada com os dois golos turcos, mas que não deixou de apoiar a equipa.
Até ao fim, até ao apito final.
Benfiquistas que fizeram a sua parte.
E que esperam a retribuição dos jogadores.
Que esperam o 32º campeonato.

Pedro Rui

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A expulsão de Reyes

Não raras vezes, a arte imita a vida.
O futebol, como arte não é excepção.
E o que se passou ontem, no D. Afonso Henriques, é disso um bom exemplo.
Quando as coisas parecem correr bem, a rotina encontra terreno fértil.
E cresce fazendo tudo parecer imutável, inevitável.
Floresce a preguiça que nos impele a não pensar muito.
O mais cómodo é seguir o caminho sem grande alarido.
Ganhar ao Guimarães por 2-0, num jogo que se antevia difícil é um incentivo à preguiça.
E é fácil sucumbir ás mãos do hábito. Demasiadamente fácil.
Mas, quando temos sorte, surge um qualquer acontecimento inesperado, sacudindo o marasmo, agitando as águas.
Uma expulsão, temperada com uma pitada de injustiça, que nos deixa em inferioridade.
A resistência à mudança, insuportavelmente humana, depressa a rotula de adversidade.
Ou mesmo de catástrofe.
Esbracejamos, o que só contribui para nos afundarmos na areia movediça.
Mas, se pararmos um pouco, a clarividência acode-nos.
E, se houver vontade, surge então a reacção.
Se o que ficou escondido por debaixo da rotina tiver qualidade, se o que esquecemos, adormecido valer apena, a reflexão trará clareza.
E, com clareza, o jogo está ganho.
Cada movimento é então cuidadosamente pensado.
Cada jogada é encarada como decisiva, e é imaginada como tal.
Cada passe é estudado à luz das suas consequências.
Passamos a olhar para todo o campo, quando antes não vislumbrávamos mais do que um pequeno pormenor.
E o resultado surge, não imediata mas inevitavelmente.
E o resultado é segurança e crescimento. Amadurecimento e sucesso.
Que será tão longo e duradouro quanto maior for a distância a que a rotina for mantida.
É assim na vida.
E se assim for no futebol, o Benfica regressou de Guimarães infinitamente mais maduro.
Mais campeão.

(Para a Ana, que me entende melhor que ninguém)

Pedro Rui